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ANDO NO CHÃO, MAS AJUDO NA ALTURA - Oswaldo U. Lopes

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ANDO NO CHÃO, MAS AJUDO NA ALTURA
Oswaldo U. Lopes

         Atualmente moro mais no fundo do armário, mas já morei na frente em posição de destaque e olha que minha dona tinha e tem muitos como eu. Minha cor é um branco amarelado que muitos gostam de chamar de champanhe, sou raso na frente e tenho seis centímetros atrás. Elevação que transmito a quem me usa com prazer.

            Quer dizer prazer meu, muitas moças e senhoras se queixam que me usar, depois de algum tempo, deixa os pés cansados e doloridos.  Você já adivinhou, sou um sapato de salto alto.

            Minha primeira aparição foi num baile no qual minha dona compareceu com um vestido cuja cor combinava comigo ou, se quiserem eu combinava com o vestido. Acho que é mais apropriado falar assim, pois fui comprado depois do vestido. O conjunto era bonito eu, minha dona e o vestido, sobretudo minha dona que era e ainda é uma moça muito bonita.

            Se não me engano o baile chamava das treze listas e isso tinha algo a ver com a bandeira do Estado de São Paulo. Lá pela tantas o colar de perolas da minha proprietária arrebentou e foi pérola para todo lado. O rapaz com quem ela dançava ajudou a colher as ditas cujas e disso resultou uma amizade que virou namoro, noivado e... Bem isso é outra história que fica para outro sapato contar, o branco! É tinha gente dizendo que o colar estava meio frouxo de propósito...

            Tive outras aventuras, mas certamente a mais engraçada foi quando o irmão gêmeo dela me pediu emprestado para usar no Show Medicina. O rapaz era um distinto aluno da famosa Faculdade de Medicina da USP e a tradição nessa escola era de que as moças faziam a costura das vestes para o espetáculo, mas não participavam da representação.

            Segundo consta parece que isso começara bem lá atrás quando poucas moças entravam na faculdade e isso obrigava  que o Show seguisse os trâmites do teatro Elisabetano a lá Shakespeare. Aliás uma das cenas mais engraçadas do famoso Show era uma paródia de Romeu e Julieta.

            Bem, o rapaz não representou Julieta, mas Josefina a do Napoleão. Estava bem composto o dito cujo, embora balançasse um pouco por causa da minha altura. Quando entramos no palco, fomos recebidos com estrondosos aplausos e assobios. Bons tempos...


            E isso aí, às vezes ainda saio do armário para ir a uma festa, agora em geral o vestido é mais curto e eu apareço mais. O que, modéstia a parte, eu mereço.

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