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Quase Natal na Serra de Santa Maria - Oswaldo Romano

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Quase Natal na Serra de Santa Maria
Oswaldo Romano

         Nem gosto de lembrar aquele Natal de 1.970. Mas mesmo não querendo ele surge. Falou em Natal, num lampejo, lá estou eu na Serra de Santa Maria. Fica ali, perto de Brotas, caminho do meu costumeiro destino à cidade de Mineiros do Tietê, em visita à família que aguarda os filhos nos festejos de Natal. Não falo das curvas porque era impossível vê-las. Chovia muito!  A terrível cerração estava assentada no chão da serra, molhadas como nuvens, cobriam totalmente a visibilidade. Ou quase. Os faróis da moto, mesmo os de neblina, não a furavam além de quatro metros.

            Então, por que lembrar?

Lembrar porque o passado é feito de lembranças. Imagine se tudo fosse apagado! A nostalgia nos põe em pé. Traz-nos como esta saudade, saudade de um perigo que passou.

            Estava com minha noiva. Sua companhia ajudava-me ser um pouco mais valente.

            Os raios pipocavam! Caiam muito próximo, faltavam os trovões que avisam a gente a se encolher! Mais lúgubres os clarões, flashes que iluminavam Santas Cruzes. Visões estranhas surgiam, provocadas pelas gotas que cobriam a viseira. Alteravam as imagens e transformavam tudo em almas penadas. Com as mãos firmes no guidão, impossível persignar-se!

Pecado! Elas representam o símbolo para que fiquem em paz.  O barro subia pelas minhas botas. Lembrei-me da garupa, minha noiva, quando me apertando disse:

— Tô com medo, bem!

— Mal sabia ela que eu... também! 

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