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Histórias do Osvaldo José. - CONDUTA PRECISA - Fernando Braga

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Histórias do Osvaldo José.

Fernando Braga

       Osvaldo José, é um médico neurocirurgião, capacitado, dedicado e muito ético.  Sempre considerou, primeiro a saúde e bem  estar de seus pacientes, depois o dinheiro. Sério, não gosta e não faz gozações com os outros, como seu grande amigo Zé Osvaldo, mas ambos se entendem.

       Vou expor um acontecimento que ocorreu com há muitos anos, mais precisamente em 1976, que todos nós tomamos conhecimento, posteriormente confirmado pelo próprio Osvaldo José.

       Conduta precisa.

       Este colega que se formara na Unicamp começou exercendo  a profissão em Campinas, onde tinha um consultório no centro e uma vez por semana dava  plantão no pronto socorro de um hospital, mais precisamente no “Irmãos Penteado”. Estando de plantão, deu atendimento a um caso de urgência que chegou de ambulância. Tratava-se de um paciente jovem que sofrera um acidente na via Anhanguera, próximo a esta cidade. Na sala de emergência médico foi informado que a vítima estava consciente, quando socorrida. No entanto, durante o transporte,  ele se queixava muito da cabeça, tornou-se sonolento, torporoso  e agora, estava sem os sentidos e respirando mal.

        Osvaldo José ao examina-lo observou que tinha um ferimento na região temporal direita, onde havia um inchaço local. O paciente estava inconsciente, reagia muito pouco aos estímulos dolorosos, o pulso lento e a pressão arterial elevada. Ao abrir as pálpebras notou a pupila direita dilatada, com anisocoria.  Deu então uma ordem para transportarem o paciente imediatamente ao centro cirúrgico. Era para não perderem mais do que cinco minutos até colocarem-no na mesa cirúrgica. Dirigiu-se com um auxiliar ao centro cirúrgico e preparou-se para cirurgia. Seu auxiliar perguntou:

— O que você acha?

        —Deve ter desenvolvido um hematoma extradural  e temos que agir rápido.
       —Você não vai fazer exame?

       —Não dá tempo, se perdermos meia hora chegaremos tarde!

       Quando ia lavar as mãos para o ato, foi chamado para atender a um telefonema urgente. Era o pai do paciente.

      —Alo, quem fala? É o doutor que atendeu meu filho?

      —Isso mesmo! Já o trouxe para o centro cirúrgico, em cinco minutos começo a operá-lo.

       —Doutor, eu não quero que faça isso! Não quero que mexa na cabeça de meu filho. Faz meia hora que soube do acidente, e estou neste momento, saindo daqui de São Paulo, com um neurocirurgião de minha confiança. Se tiver que operar, vai ser com ele. Chegaremos em 50 minutos.

       —Sinto muito, mas não posso esperar. Quando vocês chegarem, seu filho já estará operado.

       —O senhor não faça isso. Se fizer, eu vou processá-lo! Não mexa nele!

       Osvaldo José desligou o telefone, esterilizou as mãos e foi de imediato à sala cirúrgica. Prendeu a cabeça do paciente, fez pequena tricotomia na região temporal, passou o antisséptico, injetou anestésico local na pele, colocou os  campos cirúrgicos e deu início ao procedimento. Nesta hora chegou o anestesista para controlar os parâmetros do paciente, mas não fez nenhuma anestesia.

       Cortou a pele, rebateu o músculo e fez uma abertura no osso fino da região temporal. Assim que começou a abrir o osso, começou a sair coágulos sob pressão.  Diagnóstico correto! Alargou mais a abertura óssea, o que permitiu que retirasse muito coágulo e   a coagulação da artéria rota (meníngea  média).O cérebro estava muito pressionado pelo sangue. Após a retirada de todo o sangue coagulado, lavou o local com soro, ancorou a duramater e fechou a pele. Quando dava os últimos pontos na pele, o paciente começou a reagir, se movimentar. Foi contido e o anestesista, que já tinha pego uma veia, fez um anestésico de ação rápida. O pulso já estava normal, assim como a pressão arterial. Levado para a sala de recuperação anestésica, foi observado que a pupila direita já   estava igual à outra, isocórica, um ótimo sinal.

       Estavam ainda no centro operatório quando entrou um médico de São Paulo, o neurocirurgião trazido pelo pai do paciente, que perguntou a Osvaldo José:

       —Você operou o paciente?

       —Operei, ele já está sala de recuperação anestésica, venha comigo.

       O neurocirurgião paulista viu o doente, examinou-o e percebeu que já estava acordando, mexendo ambos os lados, movendo a cabeça. Após meia hora, estava consciente, falando e perguntando onde estava, o que havia acontecido.
       Osvaldo José falou disse ao colega:

       —Tive que operá-lo. Bateu a cabeça, teve o intervalo livre, ou período lúcido, pois ajudou a ser colocado na ambulância. Meia hora após, quando aqui chegou, estava em coma, com anisocoria, pulso lento. Fiz o diagnóstico de hematoma extradural e o trouxe para a sala cirurgia. Não tivemos tempo nem de fazer exames.

       —Meus parabéns! Você agiu corretamente. Se perdesse tempo, ele não estaria vivo.

       —Vamos falar como pai dele que está muito ansioso, nervoso, mas primeiro deixe que eu fale com ele. Você conhece o pai dele?

       —Não, não o conheço, mas seja quem for, eu agiria da mesma maneira.

       Conversaram com o pai do paciente, que após receber todas as explicações e saber que seu filho já estava acordado, abraçou também o Osvaldo José,  que pensava   naquele momento:

        —Imagine se o paciente morre!
    
       Osvaldo José, ficou sabendo que o pai do paciente era dono de um grande banco, muito bem posicionado e possuidor de enorme fortuna.

       Por ocasião da alta, Osvaldo José deixou sua conta, que foi paga imediatamente. Nesta ocasião o pai do paciente disse:

       —Doutor, muito obrigado por tudo. O senhor salvou o meu filho. Se tivesse me ouvido, tenho certeza, de que não estaria mais com ele.  Mas, o senhor cobrou muito pouco, posso pagar muito mais.  Não quer rever sua conta?

       —Não! Este é o honorário que estou acostumado a cobrar. Agradeço às suas considerações. Obrigado

       Após uns 10 dias, Osvaldo José estava em seu consultório quando a secretaria comunicou que um paciente queria falar com ele, sem ter marcado.

       Entraram na sala o pai e filho juntos. O rapaz estava ótimo, normal, boa cicatrização da ferida cirúrgica.

       —Doutor, aqui estamos novamente para agradecê-lo. Agradecer pela vida de meu filho.

       —Queremos lhe entregar isto!

Era um belo chaveiro portando duas chaves.

       —O que é isto? - Arguiu o médico.

       —São as chaves de um carro zero, um Galaxy azul, que está em sua garagem. Os documentos estão sobre o acento, todas as taxas pagas e com seguro.

       —Sinto muito, mas não posso aceitar. Apenas fiz o que tinha que fazer!

      —Se o senhor não aceitar, pode jogar fora! Vai ter coragem?

       Este é o Osvaldo José. Aguardem por outras!


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