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A NOITE DE PEDRO - Oswaldo Romano


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A NOITE DE PEDRO

             Oswaldo Romano         
                                                                              
         Pedro que teve sua casinha de Pau a Pique, ainda em construção, quase destruída pelo temporal, preparava-se para, tomando folego, concertar o estrago na manhã seguinte.

         Ali próximo mantinha um puxado junto ao barranco do rio, onde guardava ferramentas e coisas que vinha usando na obra. Nessa noite, ainda sob mal tempo, resolveu dormir nesse local resguardando de roubos na sua propriedade.

         Economizando a lanterna virou-se com uma lamparina a querosene até ajeitar-se num canto onde dormiria.

         O tempo não dava tréguas, voltava a chover com muitos trovões e fortes ventos. Chegavam a uivar entre os vãos. Muito cansado, deitado meio adormecido, mas sofrendo essa inusitada situação.

         Os minutos passavam, seu pensamento rolava. Apagou a lamparina, mão sob a cabeça livrando um ouvido, mesmo confuso, nenhum barulho lhe escapava.

         Já estava mais pra lá do que pra cá, levou tamanho susto, arregalou os olhos vendo sua lanterna acesa, girando só naquela pequena tenda, e saindo espirrando faíscas pela porta.

 Tinha a porta serrada ao meio, na horizontal. Servia de janela e barrava entrada de inconvenientes por baixo.

         Pedro endureceu. Quando pensou em se levantar, um raio o encolheu. Pedro aprumou-se lentamente, trêmulo, olhou por um canto da janela. Quase a lanterna lhe atingiu, voltando, mas desta vez deu para ver, foi trazida por parte de um esqueleto escorrido, brilhante! Ele girou e num lance fugiu de novo. Chovia, novo raio cai muito perto, jogando-o pelo chão. A situação já estava tétrica, nada podia fazer, mesmo que quisesse, perdendo todas as forças.

         Apanhou um facão levantou-se até o vão, viu sua lanterna lá na casa, vasculhando a construção de Pau-a-Pique inacabada. Pelo rabisco que sua luz fazia, mudava de local com incrível velocidade. A chuva e relâmpagos alteravam a nitidez da sua visão. Deu-lhe forte tontura ao ver que ela mudando de rumo, vinha em sua direção deixando um rastro de luz.

         Pedro caiu no seu canto desmaiado. Acordou, já dia, olhando direto para a lanterna. Lá estava ela, quietinha no mesmo lugar em que havia deixado.

         Incrédulo, pisando em brasas, subiu, foi apurar não sabia o que. Encontrou tudo como estava. Perturbado procurou seu vizinho. Exaltado contou-lhe com detalhes, gesticulava. Quando acalmou, ouviu do vizinho a seguinte história:

         — Pedro naquela baixada, junto às lavadeiras, conta-se um causo da mulher que, por ciúmes, esfaqueou várias vezes sua vizinha, matando-a, tingindo de sangue as águas do córrego. De noite teria saído do seu fundo, portando uma lanterna a procura da assassina. Ninguém acredita nisso. Foi invencionice do tal Trajano, um trambiqueiro, que há anos passou por aqui. Não aconselho contar para ninguém. Ninguém vai acreditar na sua história, e ainda vão tirar sarro e rir de você. Vai ficar marcado, olhado de escanteio por muito tempo, por onde passar.

         — Tá bom, e ocê acredita em mim?


         — Cê tem certeza que não tava sonhando?

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