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A MISTERIOSA LUZ - Sergio Dalla Vecchia

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A MISTERIOSA LUZ
Sergio Dalla Vecchia

Era uma sede de fazenda sem luxo. Tinha o tamanho dos corações dos meus avós. Sempre cabia mais um!

Era lá é que os netos iam passar as férias escolares.

O número de crianças podia chegar até quinze, que era o total dos netos. Time suficiente para movimentar o ambiente com correrias, gritos, brigas, manhas e choros. Era naquela agitação que os dias passavam com a alegria estampada nos rostos das crianças.

Assim, após um dia de travessuras e brincadeiras, o sol se escondia por detrás de uma pequena colina. Era quando a tarde se entregava para noite!

O jantar era servido e logo após, todos iam para a varanda da frente conversar. Ali é que começavam os medos!  O vô Chico desaparecia e de repente surgia de fantasma, vestido com um lençol branco e com a dentadura a amostra.

— BU! –BU! – gemia o vô.

Morríamos de medo, mas mesmo assim uma priminha assustada dizia:

—   Maisi vovô, maisi! - numa mistura de medo e euforia.

Assim ele repetia a cena mais uma ou duas vezes até que os mais novos caíssem no sono e daí direto para cama. Causos de cobras, Saci–Pererê e Mula sem Cabeça eram contados deixando as crianças boquiabertas e sem piscar os olhos.

Certa noite minha mãe conversava alegremente em meio as brincadeiras e causos com os filhos e sobrinhos na varanda, quando resolveu apontar para lado da colina e perguntou para as crianças:

— Vocês estão vendo aquela luzinha lá?

— Sim! -  responderam todos.

— Eu a vejo desde quando era menina e ela sempre esteve ali e intriga muito a todos. A luz surge pairando sobre as ruínas de uma casa de pau-a-pique, no pasto do outro lado do rio Poção. Estou com medo, mas mesmo assim narrarei para vocês o que testemunhei há tempos atrás.  

— Eu era menina e numa certa noite a vovó estava com meus irmãos e eu nessa mesma varanda, e lá estava a luz no mesmo lugar que vocês estão vendo. De repente a vovó, não se sabe porque começou a olhar para a luz e num gesto de coragem resolveu interpela-la:  “Se for alguma alma penada, que dê um sinal!” –Ordenou com firmeza, e para o espanto de todos, a luz partiu acelerada em direção a varanda, onde permaneceu por horas reluzindo acima do telhado.

Mamãe ainda com medo pediu para não olharmos para o lado da luz, criou coragem e continuou a narrativa:

— Foi um pânico geral, a vovó apavorada iniciou a reza de um terço e não parou até que a luz desaparecesse!

—  A notícia se espalhou para os quatro cantos da região!

— Por conta disso, os fazendeiros se reuniram com o padre da cidade, capatazes e até o delegado. Formaram uma expedição, e durante uma noite partiram no rumo da luz. Lá estava ela pairando sobre as ruínas da casinha de pau-a-pique!

— A expedição foi avançando, avançando até que chegou. Examinaram todo o local e nada, ela desaparecera misteriosamente!

— Foi um banho de água fria na expedição. Os homens desapontados e cansados voltaram para suas casas.     

— Passados alguns dias, os fazendeiros ainda inconformados montaram outra expedição e o resultado foi o mesmo. Nada da luz! No entanto ela continuava a ser vista por todos!

Mamãe, visivelmente abatida pelo que acabara de contar ainda disse:
— Crianças, o tempo passou e o fenômeno foi esquecido pela minha geração, mas peço a vocês desta nova geração que reservem esse fenômeno como um causo de família!


Agora vamos todos para a cama se não a cuca vem pegar!

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