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QUEM É A MALA? - Oswaldo U. Lopes



QUEM É A MALA?
Oswaldo U. Lopes

         Eram três casais com filhos na mesma idade, adolescentes e que, portanto, podiam e iam ficar sozinhos por sua própria conta.

            A novidade era D. Irma tia da Luiza que resolvera acompanhá-los. Resolveu era modo de dizer, viúva recente, Luiza tivera a ideia da boa ação do ano! Levar a tia na viagem.

            A encrenca começou de saída em Paris. Como costumeiro alugaram três motos grandes, uma para cada casal, só que, agora uma delas tinha sidecar.

            Foi uma festa fotografar D. Irma no sidecar já meio encorujada achando aquilo tudo um despautério. E lá se foram Joana e Pedro, André e Camila, Joaquim e Luiza mais D. Irma. Andar de moto na Europa, sejamos honestos, senão for em pleno agosto, você arrisca um friozinho. Na Noruega pode até nevar. Num sidecar sem proteção na frente você pode e vai tiritar de frio. D. Irma batia os dentes e o queixo para valer.

            Fizeram o trajeto Paris- Orleans- Limoges – Marselha com duas paradas, e um pernoite em Limoges. Saíram tarde de Limoges porque tinham muito a ver. Quando chegaram em Marselha já estava escuro e frio. Tiveram que tirar D. Irma do banco com um pé-de-cabra, estava viva, mas rígida.

            Fizeram de Marselha ponto de partida para passear, sem pressa, pela Provença. Ai, reconheçamos a coisa melhorou. Se o sol nasceu para todos, na Provença ele não só nasceu, como cresceu, aqueceu e iluminou tudo ao redor.

            Organizaram um piquenique e cada um foi procurar comida nas lojas e supermercados. Foi aí que D. Irma brotou e pôs as mangas, as pernas enfim tudo para fora. Educada em colégio de freiras, falava um francês maravilhoso e apareceu no piquenique sem uma lata sequer. Tinha pães espetaculares, queijos saborosos, frutas fresquíssimas, embutidos e vinhos preciosos.

            Seguiram para a Borgonha e o francês dela continuava regendo o espetáculo. Aí deu zebra, resolveram ir para a Suíça, atravessando os Alpes. Nem Deus teve piedade de D. Irma, pararam duas vezes para literalmente reanimá-la a dar-lhe uma cor que não fosse o azul profundo do frio.

Não conseguiram nem levá-la para o quarto quando se aconchegaram junto à lareira do living de uma deliciosa pousada. A duras penas alcançaram Zurique onde ela embarcou rapidinho para o quente e delicioso inverno do Brasil.

            Ficaram a meditar: “D. Irma era uma mala, certo? Mas aquela alça da Provença e da Borgonha fora inesquecível e restaram duvidas, quem carregara quem?”.

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