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O BEM VEM DE PARTES QUE NEM ESPERAMOS.- Maria Amélia Favale



O bem vem de partes que nem esperamos...
Maria Amélia Favale


Claudia aparenta trinta , na realidade está  perto dos cinquenta.

Ela é ideal como ajudante doméstica, para donas de casas muito ansiosas. É assim na casa de Dona Alice. De Claudia mal se ouvem os passos, jamais altera o tom de voz, procura adivinhar o que as pessoas da casa precisam para servi-las. Tudo para agradar seus patrões.

Parece gostar dos adultos, mas venera mesmo as crianças.

Um dia a patroa estava sentada no sofá lendo as notícias do jornal, e viu a doméstica cruzar a sala algumas vezes,  depois esticou os olhos e a viu  na cozinha entretida com as panelas ao fogão. Simpatizou com os modos dela,  tão responsável se mostrava ser. E, ficou ainda mais encantada ao ver  como ela tratava as crianças,  quatro filhos endiabrados.

Tinha sido um dia atribulado com tantas atividades com os filhos. Logo após o jantar, já era chegada a hora das crianças irem  para a cama, e a empregada deu a ordem para irem para o quarto. Todos eles obedeceram sem reclamar.  A patroa não acreditou no que presenciou. Mas, ouvia da sala de jantar a algazarra que faziam, jogando travesseiros um no outro. Teve vontade de ir até lá para por fim na bagunça. Mas, logo viu Claudia se antecipar e aparecer à porta do quarto, quando, milagrosamente, eles pararam com as  estripulias.

A patroa passou a ouvir a voz da moça que cantava para as crianças, acalmando-os de modo mágico. Ela possuía uma  voz tão maviosa, tom claro e suave, que todos pareciam encantados. Até ela ficou hipnotizada. Permaneceu parada à porta entreaberta por todo o tempo, e só se deu conta do que estava fazendo depois que Claudia terminou de cantar. As crianças aplaudiam e pediram para cantar mais.

No dia seguinte a patroa chamou a moça, disse que tinha a ouvido cantar para as crianças. Agradeceu por ser tão boa com eles. Quis saber onde estudou para ter uma voz  tão linda!

Claudia disse que nunca estudou música. Disse que esse dom era uma graça divina.

Na realidade,  venho de uma família pobre. Minha mãe gosta de tocar violão, eu a acompanho cantando. Minha voz mudou as coisas lá casa. É que meu  pai  era agitado, muito nervoso,  batia nos filhos e até na minha mãe. Mas, desde que comecei a cantar ele mudou muito. Na primeira vez,  ele ao ouvir-me cantar se ajoelhou aos meus pés, pediu-me perdão pelo ato abrutalhado de tratar os filhos e à minha mãe. Se consegui mudar as coisas lá, posso também mudar aqui. Foi assim que comecei a cantar para as crianças. Tomara, que logo eles estejam mais calmos”.


O bem vem de partes que nem esperamos...

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