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A LAMPARINA - Oswaldo Romano


A LAMPARINA

Oswaldo Romano


            Eram quatro na família do Arthur. A mulher Erika e dois filhos. Isaura de dez anos e o menino Amadeu de dois.

            Moravam na pequena colônia de lavradores, oferecida pelo arrendatário das terras à meeiros nas plantações.

            Arthur se responsabilizou em contrato de cuidar de quatro alqueires, plantando a safra o algodão.

            A moradia que lhe fora dada consistia de um casebre entre vinte construções iguais. Olhando do morro existente na outra margem do pequeno rio que dividia a propriedade, tinham uma aparência folclórica, um típico quadro para pintores.

            Não eram brancas ou coloridas, porque levantadas no sistema de barreamento todas eram ocres. Suas construções não careciam de materiais industrializados. Todos foram encontrados no próprio lugar.

            Arthur olhava sua casa com admiração, e memorizava agradecido os caboclos que o ajudaram levantá-la. Participou do mutirão para as construções, de olho em fazer parte dos futuros meeiros.

            Como pilares foram usados os troncos dos palmitos nativos. O seu abate criava uma festa na comilança do cerne da sua ponteira.

Das taquaras na vertical amarradas nas horizontais a cada dez centímetros, nasceram os panos das paredes. O barro com as águas do pequeno rio formava o barreamento que no sopapo preencheram aqueles vãos.

Foram cobertas com sapé e com folhas das palmeiras, e dos buritis.

            Mostro neste folclore apenas o trabalho do homem bicho carpinteiro na construção do seu abrigo. Naquelas rústicas, mas acolhedoras casas quando foram entregues, eu vi mulheres chorarem de alegria pela magnifica conquista.

            Muito mais poderia descrevê-las com amor e saudades, como o chão de barro encerado com o resultado das folhas da carnaúba maceradas, e os vãos das janelas e portas decididos e cortados antes dos sopapos.

            Para cuidar da meeira, Arthur e Erika saem quando o sol ainda escondido ilumina os picos montanhosos. Enxadas nos ombros, chegam, capinam o mato o dia todo nas terras produtivas dos carreadores.

            Erika volta pouco antes do sol se por. Precisa cuidar da casa. Prepara o jantar que vai servir também de almoço do amanhã. A filha banha o neném na água que a mãe já aqueceu.

            Escurece e Arthur chega. Seu vestir que era branco, a cor preferida dos colonos para aplacar o calor, está tingido, ocreado. A frigideira no fogo, crepita e emana o cheiro aromático da mistura: alho, cebolinha e ervas colhidas ali, na pequena horta.

            O cheiro é aromático, mas o que Arthur sente primeiro ao abrir a porta, é o cheiro forte do querosene exalado da fumaça da lamparina.


            Deu graças a Deus, sinal que ela estava acesa e não deixava de iluminar e proteger sua amada família.

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