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A gente que não está acostumado, estranha. - Ledice Pereira


A gente que não está acostumado, estranha.
Ledice Pereira


Padre Ernesto chegou à Paróquia de Vila Madalena, em São Paulo, há dois meses.

Veio de Pinhalzinho, uma cidadezinha perto de Bragança Paulista, de Amparo, de Itatiba. Vários caminhos levam a esse lugarzinho de terra boa para plantar, onde todos se conhecem e se ajudam mutuamente.

Ele estava acostumado a visitar os moradores, a lanchar com um, almoçar, invariavelmente aos domingos, na casa de outro paroquiano e conviver com todos.

Lembrava-se do dia em que almoçou, na casa do seu Miguel e dona Francisca, uma deliciosa feijoada feita no capricho.

Quando às 18:00h  disse que iria embora, os anfitriões, muito educadamente, perguntaram se não gostaria de mais um feijãozinho, uma linguicinha, uma couve, mas ele recusou:

Ainda se fosse uma sopinha – disse ele - o que levou dona Francisca a providenciar rapidamente uma sopinha para o padre.

Na cidade grande não havia nada disso. Quem frequentava a igreja ia somente à hora da Missa e dali voltava direto para casa.

Poucos se aproximavam dele para conversar. Ninguém o convidou para ir à casa, muito menos almoçar ou lanchar.

Resolveu então iniciar uma visitação aos moradores dali.

Encontrou várias portas fechadas e naquelas em que havia gente, estes se surpreendiam com sua visita.

Como ele era relativamente jovem, os pais ficaram cismados e alertaram suas filhas. O que será que aquele padreco estava querendo?

Os pais de meninos, também preocupados com a fama de pedófilos de alguns sacerdotes, afastaram-se da igreja.

Uns foram falando com os outros e resolveram encarar o padre. Marcaram uma reunião e foram diretos:

- Padre Ernesto, estamos aqui para saber o que o senhor pretende com essas suas visitas às nossas casas?

O Padre, surpreso, explicou que vinha de Pinhalzinho, onde estava acostumado a filar boia nas casas dos paroquianos e visitar o povo dali e estranhou o comportamento da cidade grande. Só queria se aproximar mais. Sentir-se enturmado, como se todos formassem uma grande família.

Puxa Padre, desculpe – disse o representante da comunidade – é que não estamos acostumados a essa aproximação e achamos que estávamos sendo vítimas de um Conto do Vigário, literalmente.

Padre Ernesto ficou chocado. Explicou o quanto achava importante se inteirar de cada família para poder levar sua palavra e sua bênção diretamente aos lares dos paroquianos. Jamais imaginou ser mal interpretado.

Essa conversa franca foi muito positiva  pois, desde então, o Padre passou a fazer parte integrante de cada uma das famílias frequentadoras da Paróquia. Consequentemente, a igreja ganhou mais e mais adeptos.


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