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CALA A BOCA! - Oswaldo U. Lopes


CALA A BOCA, CARA. VOCÊ SÓ CONTA MENTIRA! NÃO PERCEBE QUE NINGUÉM ACREDITA MAIS EM VOCÊ?

Oswaldo U. Lopes

       Havia sido muito duro com o Ricardo, mas ninguém mais suportava aquela história da computação gráfica em Londres. Todo mundo sabia que o único curso que o Ricardo fizera em Londres fora o de lavar pratos no restaurante grego. Até o dia em que foi parado por um Bob, a paisana, que lhe perguntou, depois de um encontrão, aonde vai  com tanta pressa?

        — Vou pro restaurante e sai da frente que já estou atrasado.

        Foi dali mesmo para a delegacia! E deportado logo a seguir. Terminara a aventura londrina e nem mesmo aprendera um bom inglês que a maioria do restaurante era de gregos mesmo e falavam grego. Aprendeu um pouco de grego e já podia contestar a frase:

- Isto é grego para mim. O problema era para que serviria o pouco grego em São Paulo.

        Em computação gráfica ele até que não era ruim, quer dizer era bom mesmo, mas autodidata. Em vez de se orgulhar disso o idiota inventara essa história que fizera cursos e aprendera em Londres. Era um exemplo vivo do subdesenvolvimento mental que acometia os brasileiros em geral. Pra ser bom tinha que ter feito lá fora. Fora, no caso, sendo no mínimo Europa Ocidental, Portugal e Espanha não contam, dependendo da área pode ser Itália (humanas, sobretudo arte).

        Coisa mais pesada só vale Inglaterra, Alemanha e ali escapando França.

        Não fora injusto com o Ricardo, fora cruel. Mas, todo mundo da rodinha estava cheio com aquela maneira idiota de aparentar grandeza. Alguns também viveram na comunidade anglo-brasileira no exilio, o conjunto dos jovens aventureiros que aprendiam a lavar pratos em Londres e , portanto,  sabiam das coisas.

Bem, se arrependeu, ia ter que dar um jeito. Talvez a Lucinha ajudasse. Era a própria alma mater do grupo. Sempre generosa e, porra, a única que de fato fizera um curso legal e solido de software e voltara falando inglês com aquele maravilhoso acento de quem tem uma batata quente na boca. Ela trabalhava muitas vezes com o Ricardo e aproveitava bem o talento dele na computação gráfica.

Valha-me Deus, arranjo encrenca ate tomando chope!

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