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PIROPOS – GALANTEIOS Oswaldo U. Lopes



PIROPOS – GALANTEIOS
Oswaldo U. Lopes

            Embora pouco usada a palavra piropo existe na língua portuguesa. Frequentemente, no Brasil, usamos seu sinônimo galanteio. No entanto seu uso é comum na Península Ibérica. Em Portugal e Espanha vamos encontra-la amiúde.

            Em Portugal há até uma lei que tipifíca o piropo como crime, o que deu origem a um banner que já virou o mundo:

“Não precisamos de leis contra piropos, precisamos de leis contra corruptos”.

            Mundo pequeno não é! Tais leis seriam muito bem vindas ao nosso país. Entre nós, o galanteio, era até certo ponto usual, mas caiu no vulgar. Os respeitáveis senhores que ficavam à porta da Confeitaria Colombo no Rio de Janeiro eram famosos e apareceram até em marchinhas de carnaval:

o velho na porta da Colombo, é um assombro”.

            Galanteios modernos existem, o difícil é achá-los de bom gosto:
Gata, meu nome é Arnaldo, mas pode me chamar de Naldo, pois quando eu te vi perdi o ar”.
Os, dos espanhóis são, sem dúvida de melhor qualidade:
Quando te multen por excesso de belleza, yo pagare tu fianza”.

            Aliás na Espanha, em plena Semana Santa, quando sai as ruas a procissão e lá está a Nossa Senhora da Esperança é comum e frequente que se ouçam gritos de:
“Guapa, reina de my corazon!” “Adelante Guapa”.
           
É claro que as madonas espanholas fogem a classificação e ficamos sem saber muito de sua origem e relação com o nome que lhe dão. Vejamos a mais famosa delas, a Virgem da Macarena, a famosa Senhora que mora em Sevilha e costuma sair às ruas na procissão da Semana Santa quando é o amado alvo de inúmeros galanteios. Não só é muito bonita como suas roupas são suntuosas e muito ricas, bordadas em perolas. Tem um rosto sofrido, lágrimas que escorrem e, detalhe, as mãos abertas à frente, sem o menino. É conhecida como Nossa Senhora da Esperança e ninguém sabe por quê.

            Não é exceção, é quase regra. Na cidade de Granada há outra Virgem que também costuma sair na procissão da Semana Santa, que também tem roupas belíssimas e que também é alvo de piropos. Tem os braços na mesma posição da Virgem da Macarena, só que agora é conhecida como Nossa Senhora da Saúde.

            Será que apenas o sexo feminino é alvo de galanteios? Não! As cidades, talvez pela sua condição feminina, ao menos na imaginação, costumam ser galanteadas. Todos nós já ouvimos ou mesmo pronunciamos;

Roma, cidade eterna.
Paris, cidade luz.
Nova Yorque, a que nunca dorme.
Rio de Janeiro, cidade maravilhosa.
São Paulo, a cidade que mais cresce no mundo.

            Vale dizer que esse galanteio para São Paulo, não mais se usa e os que se lembram dele, gostariam que não tivesse sido. Do Rio de Janeiro tem até marchinha:

“Rio de Janeiro, cidade que nos seduz,
De dia falta água, de noite falta luz.”

            Os espanhóis acham, e aí que lhes dar razão, que o galanteio mais bonito e elegante feito a uma cidade também é deles. A cidade é Granada e o piropo:

“Dale limosna, mujer, que no hay em la vida nada como la pena de ser ciego em Granada”.

            O autor Francisco de Icaza. Mujer, sua esposa, Beatriz de León. Circunstância um passeio que dava por Granada o Senhor Francisco acompanhado de sua mulher Beatriz, quando se depararam com um cego que pedia esmolas.

            Francisco Icaza era mexicano, diplomata e escritor, apaixonou-se pela Espanha e pela Andaluzia em particular, tanto que se casou com Beatriz de León, natural de Granada. Ele escreveu poemas e critica literária. Digamos que ele não era medíocre, escreveu sobre Cervantes e teria um lugar na literatura e na crítica que se não era na primeira fila pelo menos era na plateia. Por conta desse verso, passou à história como quem criou a mais surpreendente homenagem a cidade de Granada. Todos os que conhecem a cidade mouro-espanhola lhe dão razão. A própria cidade lisonjeada pelo galanteio mandou gravá-lo em uma de suas torres.

            Bem, voltemos ao inicio, os galanteios estão totalmente fora de moda e raramente os ouvimos, quando ouvimos são de tipo grosseiro e até selvagem. Como e porque se perderam?

No árduo combate pela sua posição na sociedade, as mulheres passaram a considerá-los como machismo e até como um ato de violência e assédio. A civilização moderna deu-lhes uma posição certamente mais justa, terá, no entanto, tirado certos regalos e privilégios que faziam e fazem  parte inequívoca do gênero? É provável que in  medio virtus como já pensava Aristóteles, mas, num tempo em que é tão difícil alcançar o equilíbrio e onde a violência campeia e por absoluta falta de confiança nos governos e políticos muitos  se dão o direito de proclamar sua individualidade, sem nenhum respeito aos demais, fica difícil o dialogo e a discussão civilizada.

            Que falem as interessadas. As mulheres, vítimas ou eleitas dos galanteios! Que digam o que pensam, já que as cidades, per si, só falam passado muito tempo e em geral com arrependimento, a exceção de Granada que desfruta de tal beleza visual, que ser cego em Granada é ainda das penas mais duras da vida.

            

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