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GREYCE - M. Luiza de Camargo Malina

Lago Bled - Eslovênia


GREYCE
M. Luiza de Camargo Malina

Era noite quando Greyce postou-se na orla do lago. Pensava em seu amor, e na dor que foi separar-se dele por causa de barreiras políticas.
Sentada na grama da orla do lago Bled, região que pertenceu ao Império Austro-Húngaro, e mais tarde à antiga Iugoslávia, hoje Eslôvenia, Greyce observava os cisnes a deslizarem desapressados, alcançando objetivos através de pequenas nadadeiras. Sequer se incomodam com os barcos a remo que por lá navegam, levando turistas à ilha, onde se encontra a pequena igreja construída em 1011, inicialmente um templo erguido à deusa pagã da saúde, Giva.

Como toda cidade medieval, esta também tem sua lenda: “Uma viúva mandou forjar um sino, em memória de seu marido, para ser instalado na torre da igreja que, se sobressai com o pico da torre escura, tão escura como os picos dos Alpes. No dia que ficou pronto, ao ser transportado por remeiros, seu peso era tamanho que, com a formação repentina de uma tempestade, este naufragou cravando no fundo do lago o sino e seus tripulantes. Dizem que seu badalar sinistro é ouvido como um som vindo do fundo do lago.”

Outro sino foi colocado no lugar. No centro do interior da Igreja de Assunção de Maria, há um cordão pendurado. Reza a lenda que, se a pessoa fizer um pedido olhando para a imagem e puxar este cordão três vezes fazendo o sino badalar, será atendido. Tal fato torna a cidade lotada de romeiros.

Eslovênia é um país cheio de mistérios e encantos com seus esverdeados dragões, castelo encrustado no alto da pedra e, na raridade dos lagos e vegetação preservada. Verdadeiro tesouro guardado aos pés dos Alpes, onde se passaram as batalhas da Primeira Guerra Mundial, e hoje centro de longas caminhadas.

Todo o cenário atrai Greyce ao mergulho, não apenas para se refrescar nas gélidas águas glaciais, mas ir ao encontro deste sino nas profundezas, tocá-lo ou silenciá-lo.

 O lago esmeraldeado a atraia em uma sequência inevitável, precisa localizar o sino. A deusa Giva, a ajudará na profundidade das águas glaciais. O tempo ensolarado, com calmas sombras da alta vegetação que cerca o morro do castelo, torna convidativo o mergulho. Sem equipamento próprio, enche o pulmão de ar, e deixa-se lançar nas águas,  transforma seus braços em nadadeiras, e uma cavidade funicular abre ao meio a água, provocando um movimento de dança, intuitivo em seu corpo.

A dança atrai a deusa da saúde com duas facetas. Vestida em um traje branco translúcido, mostra-lhe a mão esquerda oferecendo a proteção que Greyce necessita.  O outro lado, o lado direito, totalmente masculino a assusta – o fogo, que tudo transforma, destrói para reconstruir.

Não sente seu corpo, respira sem dificuldade, transcende seus próprios limites.  Sente o coração pulsar forte de maneira quase descoordenada quando observa uma peça encoberta de limo e algas. É  o sino! Pensa imediatamente  Grayce entusiasmada  Inicia o repicar nas profundezas do lago de forma estridente, repicando seu pedido de um grande amor.

 Neste momento, a cada toque, provocava libertação dos náufragos. Ela presenciou, um a um, orientados no retorno pela deusa Giva, que emergem em meio ao lago na forma de cisnes.

Greyce silencia, então,  o sino.

Com forças redobradas, emerge junto ao pé da ilha, deixa escapar uma baforada de água. Recostada junto aos degraus, um noivo lhe estende a mão. Sua roupa molhada transforma-se na esvoaçante vestimenta da deusa Giva. Ele a toma no colo subindo os degraus da Igreja.


Greyce completou a travessia pela zona medieval, onde o passado não mais a perturba.

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