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CRIME E TRAIÇÃO - Carlos Cedano


CRIME E TRAIÇÃO
Carlos Cedano

Leopoldo Barreto esta se aposentando. Com setenta e cinco anos e quarenta e cinco de serviços na única empresa,  já é o bastante! Sua mulher, Márcia concorda. No cargo de Diretor Geral,  permitiu-se formar uma boa poupança para uma velhice tranquila. Sim, diz Leopoldo e agora podemos realizar o cruzeiro de três messes visitando países da Europa e da Ásia como planejado há tempo. Era a última semana na empresa e em quinze dias embarcariam.

Na segunda feira chegou cedo à sede, separou documentos pessoais dos técnicos, por correio eletrônico comunicou às empresas, colegas e amigos sua aposentadoria. Estava nestas atividades quando sua secretária, e lhe disse: Senhor Leopoldo, o senhor esta sendo convocado para uma reunião na sala do Conselho de Administração às quinze horas, é uma reunião importante! Que será? Pensou Leopoldo, trabalho não pode ser não tenho nada pendente, talvez seja  uma reunião de consulta. Eneida, confirme minha presença!

Na sala de reuniões o Presidente do Conselho, Doutor Martins,  foi direto pra o assunto: “Leopoldo, estamos aqui reunidos para decidir quem será o próximo Diretor Geral. Porém,  não chegamos a nenhum acordo, temos um “jogo equilibrado” entre os três candidatos, e mais qualificado para indica-lo é você Leopoldo. Você os conhece muito bem, e por isso lhe pedimos que decida qual deles é a melhor opção para substituí-lo. Qualquer que seja sua opinião, ela será acatada”.

 “Que belo abacaxi!” – pensou. Mas, logo disse - Qualquer que seja minha decisão, poderá  será uma decisão injusta. Os três praticamente se equiparam. Mas, não vou fugir da minha obrigação. Só peço dois dias para refletir sobre o assunto.

O homem foi direto pra casa.  Márcia o viu entrar e lhe perguntou, você parece muito preocupado meu amor, alguma coisa desagradável? O marido contou o acontecido, e sua mulher lhe disse: você está acostumado a tomar decisões, durma um pouco agora para poder refletir melhor mais tarde.

Mas não foi assim. Deitou-se e começou a repassar mentalmente as condições emocionais e de caráter de cada candidato: Manoel Brito, engenheiro e Diretor de Produção, possui enorme capacidade de relacionamento, cuidadoso com as palavras e é um inovador que aceita bem ideias novas; Francisco Lopes, Diretor Financeiro, excelente economista, um pouco workholic e não é tão sociável como os outros diretores, porem, além de uma excelente formação musical tem um relacionamento familiar admirável e um bom equilíbrio emocional; Marcio Fontes nosso Diretor de Comercialização, agrônomo, é muito bom no relacionamento com os clientes, boa inteligência situacional, não se deixa abater por situações adversas é ambicioso, aceita desafios e possui liderança carismática. Falta lhe um pouco de autocontrole, às vezes fala demais.

Leopoldo acordou de bom humor e disse pra si: “é ele sim! Vou propor seu nome”.

Na reunião o Conselho de Administração já estava a postos. Leopoldo cumprimentou o Presidente no meio de um ambiente carregado de ansiedade e entregou-lhe o envelope. Ele o abriu e anunciou:

“O novo Diretor Geral é Marcio Fontes de Paula nosso Diretor de Comercialização”. Entre rostos de alívio e de caras frustradas, logo o Presidente pediu pra sua secretária que informasse a todos o nome do eleito.

Na semana seguinte houve a cerimônia de posse, as premiações aos melhores funcionários e o jantar de confraternização. Eneida, como prometido, enviou para Leopoldo um correio eletrônico com noticias da Empresa e da eleição do Agrônomo Fontes. Ele e sua mulher continuavam felizes com seu cruzeiro. 

E, assim, aos poucos Fontes foi assumindo o controle da situação da empresa,  e um mês depois seu estilo começou aparecer.

Passados dois messes, num fim de longo semana houve um acidente de carro numa estrada num dia chuvoso, o motorista numa curva fechada não conseguiu evitar a derrapagem e perdeu o controle do veículo indo a parar numa ribanceira, o que causou a morte do casal. Era o Agrônomo Marcio Fontes de Paula e sua esposa. A notícia caiu como uma “bomba” na empresa.

Os peritos reuniram pra determinar a real causa do acidente. O carro de uma marca famosa tinha apenas um mês de comprado e os pneus praticamente novos, pelo que se sabia o senhor Fontes era cuidadoso,  e não tinha bebido como demonstrou a autopsia. Chegaram a desmontar todo o carro para uma avaliação mais detalhada.

O relatório foi unânime em afirmar que a causa foi o travamento do freio direito do carro, mas o mais preocupante eram os sinais de manipulação observados no sistema de frenagem analisado, e quem o tivesse feito precisaria contar com ferramentas de uso especializado.

A Empresa decidiu contratar um renomado investigador particular para uma investigação altamente confidencial.

Durante alguns dias a equipe do investigador obteve  importantes informações: primeiro estudou com cuidado o manual do fabricante.  O perito da fábrica esclareceu muitos pontos e entregou desenhos das ferramentas que teriam sido usadas. Logo a equipe entrou às escondidas nas garagens das residências dos outros dois diretores onde fizeram buscas minuciosas. Também procuraram nas áreas da empresa pra achar ferramentas semelhantes às desenhadas pelo perito da fábrica.

Finalmente, numa reunião bastante restrita com o Presidente e o Conselheiro, o investigador disse que foram encontradas ferramentas similares às descritas pelo fabricante. Na garagem do Engenheiro Mecânico, Manoel Perez Brito encontraram uma similar as descritas e outra na oficina de reparos na área de Produção cujo diretor é também o Engenheiro Brito.  Seria muita coincidência ou era uma armação contra ele.  As marcas encontradas no sistema de frenagem do carro acidentado eram bastante compatíveis com as ferramentas, mas não se poderiam afirmar cem por cento que eram as mesmas.

E, então...? Perguntou o Presidente.

O perito respondeu que como as provas eram inconclusivas não poderia acusar o Engenheiro Brito.

Está certo! - disse o Presidente, e deu por encerrada a reunião.

Eneida ligou para Leopoldo, que já tinha voltado do cruzeiro, comunicando os fatos.

Leopoldo sentou-se à mesa da cozinha e tomava café quando entrou sua mulher: O que foi que aconteceu agora Leopoldo? Você esta com uma cara de funeral! Leopoldo com paciência explicou o que tinha acontecido na Empresa. Márcia  teve um sobressalto:

Meu Deus que coisa mais absurda! Como pode ser?

Leopoldo se acomodou na cadeira e disse:

O Francisco Lopes foi brilhante, matou um e conseguiu tirar Brito da empresa,  e agora é o salvador da pátria! Eram tão amigos! Você tem certeza disso? Retrucou Márcia.

Sim! - respondeu Leopoldo. Eu tinha um plano similar e o aplicaria se não tivesse sido escolhido Diretor Geral!

Então se calou ante o olhar estupefato de Márcia!

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