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O CHAMADO - Oswaldo Romano


O CHAMADO
Oswaldo Romano                                                  

Intrigou-me o telegrama de Lourenço.

Nossa há quanto tempo não recebo nenhum ou mesmo carta. Métodos tão démodés!

E agora me chega isso via correio como uma bomba:  

Samanta
                “Venha urgente, urgente mesmo"

Jamais esperava um chamado do Lourenço. Tinha-o esquecido no meu pensamento.
O que teria acontecido? Porque eu?
Permanecia na minha lembrança como aquilo que não queremos lembrar.
Isso foi há tanto tempo! Tinha que receber esse chamado, justo agora!
Só lembro, porque foi contundente no dia em que me disse: “senta ai, precisamos muito conversar”.
E eu o obedeci. Porém o que disse foram palavras desconexas, não muito claras, confusas.
Quando foi embora, fiquei aliviada. Até queria sua distância.
Agora essa figura renasce.
Poderia responder simplesmente: Não, você já era, não me amole.
Mas, o que teria acontecido, meu Deus!

Ele não sabe que estou de namorado novo!
Este telegrama para mim é um enrosco.
E agora?
Devo mostrá-lo para o Jair, o meu novo amor? Estamos quase noivos.
Qual será sua reação? Será que ele vai entender?
Sei que vou deixá-lo intrigado. Tomado de curiosidade, talvez ódio. Vou fazer-me de vítima e pedir que encontre qual é a melhor solução.

 — Então, o que você acha disso, amor?

— Prefiro ficar quieto. O problema é seu, sei lá o que já aconteceu entre vocês.

— Mas, amor eu fico indefesa sem você.

— Responda então. Diga para não lhe aborrecer e que se ele insistir você vai rasgar seus telegramas.

Ele é um idiota! Quero distância desse cara.

—Ele morava só, aqui. Longe dos pais. Alias longe da mãe. O pai tinha falecido. Doença hereditária. A mãe era cardíaca.

— Morava só, aqui?

— Só.

— Não tenha ciúmes, ele é feio que dói.

— Não precisa   ser bonito. Homem é homem.

— Sim, mas na sociedade a gente mostra é a cara.

— Claro. Queria mostrar o que?

— Amor, podemos ir de carro...

— Naquele fim de mundo?
            
— Pousaremos uma noite no caminho.

— Você já foi com ele?

— Já.

— Você esta doida que eu vá dirigindo até lá.

— Claro que não amor. Faremos também uma parada na pousada. Gente...

...O que será que está acontecendo com o Lourenço. Estaria a beira da morte?

— Não me interessa.

— É filho único...

— Melhor, ninguém vai achar sua falta.

— Quando namorávamos pediu que, se ele morresse antes, eu deveria cuidar das coisas dele e da fazenda que o pai deixou...
                                     - - - - - - -
— Amor, quanto vamos gastar de gasolina para chegar lá?
            


Desce o pano.

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