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A ESTRELA GUIA - CONTO DE NATAL



 A ESTRELA GUIA
UM CONTO DE NATAL


Rodolfo, de aparência rude, porém simpático, estatura mediana, possuía braços fortes e mãos calejadas por conta de seu trabalho. Era feirante e herdara do pai a barraca de feira onde de segunda a sexta-feira, vendia frutas em diversos lugares da periferia da cidade de São Paulo.

Com 43 anos, aparentava ter mais idade, expressão herdada do esforço de seu trabalho. Casado desde os 28 com Gabriela, professora primária, pouca coisa mais baixa que o marido, beleza serena, chamava atenção pelos seus cabelos longos e demasiadamente pretos, sempre muito bem cuidados e presos em longas tranças.  Seu único filho Gabriel, de 12 anos, terminara o 1º grau na escola com louvor, era um menino muito curioso e atento, alto para sua idade, simpático como o pai, cabelos negros como os da mãe. Adorava ler, e sempre estava a par das noticias e acontecimentos do dia.

Rodolfo como de hábito, levantou-se por volta de 4hs da madrugada, para poder chegar logo cedo ao CEAGESP, o entreposto onde adquiria as frutas que iria vender durante o dia. Estava muito contente, pois teria a companhia do filho, que pedira para nos dias de férias acompanhá-lo à feira. Desta vez, por ser véspera de Natal, aumentaria a quantidade de frutas que costumava levar. Dirigindo o seu caminhão Ford 2003, um pouco velho, porém bem conservado e tendo ao seu lado Gabriel, sai de casa por volta das 4,30h, rumo ao entreposto.

No caminho ainda na escuridão, a atenção do menino se fixou num ponto do céu onde uma estrela com grande luminosidade, parecia estar pendurada em uma espécie de cauda toda iluminada.  Após admirar a estrela, percebe que ela parecia  segui-los durante o trajeto, aumentando e diminuindo de intensidade por breves períodos.  Ao chegar ao local, esquece por momentos a visão que tivera e vai ajudar o pai carregar o caminhão. Tudo pronto, pai e filho retornam à cabine do caminhão para retorno. No portão, o pai acende os faróis do caminhão e avista a estrela em forma de cometa. Intrigado, chama atenção do filho para aquela visão. Ele lhe conta que já a avistara desde que partiram de casa e que tinha a sensação de que ela os seguia. Curioso como era, indaga ao pai que estrela seria aquela. O pai, um pouco encabulado, lembra-se da historia que lhe contaram quando fez o catecismo na igreja. Diz ao garoto que aquela estrela era parecida com a que guiou os reis magos até a manjedoura, onde havia nascido o menino Jesus. Perguntado quem eram os reis magos, explica que eram reis de reinados distantes de onde nascera Jesus, e que  ao saberem ter nascido o rei dos reis,  foram até lá, guiados por uma estrela, para prestarem ao recém-nascido suas reverências e ofertarem os presentes que portavam.

Passado alguns minutos e pensando estar a caminho da feira, Gabriel então lembra sobre o apelo que ele vira pela televisão, para que doassem o que pudessem, a fim de atender e amenizar o sofrimento dos muitos desabrigados pela catástrofe, provocada com o rompimento de uma barragem em Minas Gerais, na cidade de Mariana.

Depois de parar em um posto de gasolina, Rodolfo por curiosidade pergunta ao frentista se estava vendo alguma estrela diferente no céu, a reposta foi negativa. Fez a mesma indagação ao jovem a quem se dirigiu para efetuar o pagamento, nova negativa. Voltou para a cabine e perguntou ao filho se ainda continuava a ver a estranha estrela. Diante da resposta positiva, ficou calado por alguns segundos.

O filho percebendo o silêncio do pai, indaga se ele ia mesmo seguir aquela estrela. O pai diz que sim, pois uma estranha força o compelia a fazê-lo e indaga do filho se  aceitaria ir junto, embora sem saber aonde a estrela os levaria. O menino todo feliz e achando estar entrando em uma aventura fantástica, aceita sem pestanejar. 

Seguindo a estrela, logo se da  conta que entrara na estrada Fernão Dias. Ao parar no ultimo posto de pedágio, já na divisa com Minas, e ainda guiado pela estrela, pergunta à cobradora, se ela esta vendo alguma estrela no céu. Sem entender, espantada e parecendo temerosa, pede a ele que repita a pergunta, o que ele faz. Ela então responde que somente via no céu nuvens negras ameaçando chuva. Ao insistir com ela, percebe pouco depois se aproximar um guarda rodoviário, pois a moça acionara de dentro da cabine o botão de pânico.

O rodoviário solicita que ele encoste o veículo e pede a documentação. Verificando estar tudo em ordem, quer que ele explique a razão da pergunta feita à cobradora. Gabriel, tomando a dianteira do pai, explica ao guarda que estavam seguindo uma estrela diferente, e indaga a ele se por acaso não via uma estrela no céu naquele momento. O guarda olha para cima e não viu nada. Pergunta aonde iam com todas as frutas que estavam carregando. O menino mais uma vez se antecipa e diz que vão aonde a estrela lhes levar. Espantado mas, já se molhando na chuva que começava a cair,  devolveu os documentos e mandou que eles seguissem viagem.

Mesmo com a forte chuva, Rodolfo e Gabriel viam que lá estava a mesma estrela a guiá-los agora em direção à estrada MG-270. O pai informa então ao filho que estão no estado de Minas Gerais.

A chuva cessa, e é quando ele resolve parar e ligar para esposa e contar o que estava acontecendo. Depois de deixá-la calma e informar que não sabe a que horas iria voltar, pede ao filho que fale com a mãe. Gabriel diz a ela que também está vendo a estranha estrela, e quer continuar para saber até onde ela irá levá-los. Conformada, a mãe pede que tenham cuidado na estrada.

Retoma a estrada e entra na rodovia BR-383, para logo em seguida tomar a MG-443. Fazem uma parada em um posto para almoçarem e abastecerem o caminhão. Antes de seguir viagem, Rodolfo torna a perguntar a diversas pessoas se viam a estrela no céu. Diante das respostas negativas, se conforma e continua na direção indicada pela estrela.

Após algumas horas de estrada, percorridos mais de 680 km, e ainda sem saber direito o que estava acontecendo, percebe que a estrela os levou à cidade de Mariana em Minas Gerais. Justamente em um posto onde se arrecadavam donativos e víveres para as centenas de vítimas do rompimento da barragem que continha os rejeitos da mineração de ferro e tinha sido a causa da destruição de todo um distrito, provocando ainda incontáveis prejuízos ecológicos difíceis de serem recuperados, bem como a morte de mais de 14 pessoas.

Recepcionados por voluntários que ao ouvirem a história contada por Gabriel, saem dos lugares onde estão e vão olhar o céu, e percebem uma estrela diferente se apagando às 17hs do dia 24.

Perguntado o que viera fazer, responde que viera doar todas as frutas que estavam no caminhão.

 Com a carroceria do caminhão vazia, mas com o coração cheio de alegria e uma paz de espírito nunca sentida, Rodolfo e o filho retomam a estrada de volta a São Paulo.

Os dois têm a mesma sensação: apesar do tempo que estiveram na estrada e dos quilômetros percorridos, não estão nem um pouco cansados, e o tempo pareceu ter parado.

Chegam a tempo de fazerem companhia a Gabriela e familiares na ceia de Natal. O pai pesaroso revela ao filho que por conta da viagem, infelizmente não tivera tempo de comprar o presente de Natal. Ao que prontamente Gabriel responde:

— O maior presente de Natal, que eu poderia receber,  recebi hoje de você e da estrela guia, ao me ensinarem o que é “solidariedade”.


FIM





Ao amigo secreto Escreviver –    15-12-2015
Autor: LUIZ GUILHERME CRUZ


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