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Questão de sintaxe - Ises de Almeida Abrahamsohn

 


Questão de sintaxe
Ises de Almeida Abrahamsohn 28/10/2015

Há quase uma hora  Elisa esperava por Fábio, seu marido, sentada à mesa do restaurante. Havia colocado na bolsa o  bilhete daquele  rapaz moreno que a paquerava desde que entrara.  Artur, esse era o nome do audacioso paquera, que anotou no guardanapo o número do celular  e a sugestão  para  jantarem juntos.  O rapaz era muito, muito atraente.... Telefonar ela não poderia; o celular havia descarregado.  

A tentação era grande. Elisa estava encantada de ter se  tornado de novo objeto de desejo.  Tinha 45 anos e vinte de casada. Era elegante e parecia bem mais jovem. Nunca tinha sido infiel a Fábio embora tivesse a certeza de ter sido traída várias vezes pelo marido. Reuniões de escritório que se alongavam pela noite, atrasos mal justificados...  Elisa estava muito irritada, mais ainda porque Fábio nem se dignava a telefonar!

Elisa pesava  as possibilidades. Se convidasse  o  rapaz  para sua mesa imaginava o que se seguiria.  Mas seria apenas aquela noite! Uma escapada única, não veria mais o cara! A curiosidade era imensa.  Por outro lado se ela deixasse um bilhete para o rapaz antes de ir embora ele talvez nem ligasse. Ou ainda, no dia seguinte, Elisa  voltaria a ser a  persona racional e cerebral de sempre.  

Decidiu falar com o rapaz. Foram ao bar para conversar e ela aceitou o café e o aperitivo oferecidos.  Artur tinha sotaque do interior de São Paulo. Era de Tietê e estava em São Paulo a trabalho. Formara-se pela UNESP como engenheiro.  Elogiou o vestido de Elisa e jogou bastante conversa fora. Ela suspeitou que boa parte do CV de Artur era inventada. Mas, que importava isso!  O rapaz tinha potencial! Prometia ser bom de cama.  Não era inconveniente em público. Elisa tinha horror daqueles tipos que, por baixo da mesa, avançavam com as mãos  sobre  os joelhos e pernas.

Elisa se lembrou que a poucas quadras dali havia um motel discreto. Deveria haver  uma suíte de luxo ... com Jacuzzi,  espelhos e telão....  Era a que ela escolheria mesmo que tivesse de pagar. Ainda bem que hoje  vestia aquela calcinha  de renda preta  em vez  das confortáveis  calcinhas de algodão de todo dia!

E assim devaneava  Elisa, quando ouviu  a voz de Artur :

— E então Elisa, a gente vamos aonde daqui? Elisa chocada, ainda quis confirmação:

—  Como? 

E Artur: 

 Sim, Elisa, a gente vamos fazer o que agora? 

Elisa, instantaneamente curada do tesão,  retrucou decidida:

—  Artur, nós não vamos fazer nada mais. Obrigada pelo papo e pelo café! Eu preciso ir embora já para acordar cedo para trabalhar.


Elisa  com passos rápidos  se dirigiu para a porta, enquanto  Artur, atônito,  ficou pensando no que ele  poderia ter feito de errado.

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