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OS FARÓIS DO MAINE - Oswaldo U. Lopes



OS FARÓIS DO MAINE
Oswaldo U. Lopes

Acostumados a nevoa e a neblina os habitantes do Maine  acharam estranha aquela noite, escura e carregada de estrelas.

Não havia a intensa luminosidade do luar e como acontece quando  da lua minguante, os objetos podiam ser vistos claramente ao longe  e os contrastes eram mais nítidos.

Alice e Johnny estavam perto de um grande farol, no alto do observatório de Portland, uma enorme torre de vigia a mais antiga e a única ainda em atividade nos USA e, se não a mais alta, uma das mais altas torres desse tipo, conhecidas no mundo.

Foi ai, num brilho fugidio da luz do farol que viram a embarcação de Tim Foster, inconfundível para os habitantes do Maine. Três mastros, velas recolhidas, motor de popa soando baixo e convés carregado de caixas e mais caixas de bebida.

Sorrateira a embarcação seguia como que a se esconder e não despertar atenção. Tal acontecimento datava claramente a época. Estamos em 1930 e Tim Foster, como muitos outros, ganhava um extra contrabandeando bebidas alcoólicas. A proibição do álcool no estado vinha de longe, lá do século XIX, mas com a proibição agora válida para todos os USA o contrabando campeava.

Tim era um pescador conhecido no Maine, estado famoso pelas lagostas e pelo salmão, e vivia disso. Mais a época era funesta, a grande depressão econômica já batia as portas e como num jogo de dominó ia derrubando todo mundo. A proibição nacional do álcool fez prosperar as embarcações que faziam essa chamada segunda tarefa. Tendo o Canada como grande fornecedor, as bebidas entravam pela região dos grandes lagos e pelo Maine. A apreensão ocasional de uma ou outra carga não fazia esmorecer o contrabando.

- Até tu Tim Foster, pensou Johnny que nem de longe pensava em denunciar Tim. Ante uma lei estupida achava que era muito melhor o contrabando do que a produção de bebida alcoólica em destilarias primitivas e clandestinas que acabavam introduzindo o fatídico  álcool metílico na população de baixa renda.

Johnny que tinha ancestrais alemães ficou a matutar a famosa  frase de Bismarck:

- Se o povo soubesse como são feitas as leis e as salsichas, não comeria as ultimas nem seguiria as primeiras.

Virou-se para Alice que estava sorrindo, porque também  reconhecera o barco e estendeu a mão numa caricia suave.

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