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Emoções Alternadas - Ises A. Abrahamsohn


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Emoções  Alternadas
Ises A. Abrahamsohn 

Esperava há quase uma hora no restaurante.  Marisa já havia tomado duas  margueritas, detonado o couvert e nada de Fábio , o marido, aparecer. Sorte que o restaurante não estava cheio. O garçom ofereceu-lhe mais um aperitivo mas ela resistiu, pediu apenas uma garrafa de água.  As coisas não iam bem entre ela e Fábio. Eram frequentes  os atrasos do  marido e ela suspeitava que ele tivesse uma ou mais amantes. Na verdade, quando Fábio sugeriu aquele jantar  ela esperava que enfim eles pudessem falar  às claras. Aquela conversa  que suas amigas chamavam de “discutir a relação”.  Já tinha tentado essa conversa algumas  vezes  mas sem resultado.  

Marisa estava assim distraída quando o rapaz moreno sentado  à  mesa  atrás de si levantou-se  na direção do bar  e  num gesto rápido depositou  um  papel ao lado  de sua bolsa. . Havia  lá um nome, Artur, e o numero de telefone   com a sugestão  para que ela ligasse.  Marisa havia notado  o  tal Artur  assim que ele entrara no restaurante. Alto, moreno e atraente. Decididamente muito, muito  atraente...  _ Cacete !!!  O  seu celular  estava sem bateria. Mesmo que quisesse não poderia ligar.  Mas a  caneta e o guardanapo da mesa serviram para ela anotar nome e  telefone. Pagou a conta e ao sair deixou para Artur  as suas coordenadas. Se ele estivesse realmente interessado, ligaria. 

Ao chegar em casa  telefonou para Fábio.  Este demorou a atender e, pelo visto, havia esquecido completamente do jantar. Enfurecida, Marisa  cortou a conversa e foi dormir. Saiu cedo para o trabalho sem  ter visto a que horas Fábio chegara em casa. Durante a manhã  no escritório  de advocacia Marisa trabalhou febrilmente em vários  processos . Não pensou mais, nem em Fábio nem no  tal Artur até a hora do almoço.   Tinha trazido algumas frutas de almoço para  poder descansar  antes  da sua primeira  audiência daquela  tarde.

 Mais relaxada, Marisa  voltou a pensar em seu casamento. Sabia que Fábio jamais pediria  o divórcio:  a situação era muito cômoda para ele.  Ela  trabalhava  pra burro  e  ganhava muito bem enquanto ele sozinho não poderia manter  o padrão de vida ao qual estava acostumado. Se ela pedisse o divórcio, ele provavelmente  ainda lhe pediria uma pensão  judicial sob o pretexto de não conseguir viver  com o  próprio salário. Não que ele fosse menos capaz. Ambos haviam se formado em direito   pela mesma excelente  faculdade.  Fábio se  dizia  escrupuloso e meticuloso no trabalho, mas como todos sabiam, na verdade  era um grandessíssimo preguiçoso.  Estavam ainda juntos por comodidade dela e interesse dele. E o descarado ainda a traía.   Nisso era esperto. Para conseguir  se livrar dele  teria  que armar um flagra, uma chateação a mais: arrumar detetive e arcar com  o pequeno  escândalo. Escândalos conjugais não  casavam bem com sua imagem de advogada  competente e  ética.  Cochilava na  poltrona quando, pouco depois da uma, o celular vibrou. Era Artur convidando-a para um happy hour . Marisa ainda ficou um pouco indecisa  mas, que diabo, também era filha de Deus e merecia alguma distração.

Ao entrar no bar do hotel, Artur já a esperava. Após um olá amistoso   conduziu-a a um recanto acolhedor e ela deixou o rapaz  verbalizar  à vontade a sua lábia de conquistador.  Marisa conhecia o jogo. Falou pouco sobre si, desviou o assunto para viagens e lugares visitados e em principio concordava com as  observações do seu Don Juan. Após algum tempo as palavras  formais da conversa se tornaram desconectadas dos olhos  que se devoravam e traduziam, estes sim , o intenso e mútuo desejo .  Subiram ao apartamento onde Artur estava hospedado.  Foi uma hora de sexo tórrido e  espetacular. Marisa sentiu-se totalmente vingada de Fábio.  -  Que sorte, fazia anos que eu não  transava assim, lembrava ao voltar ao escritório. 

Marisa e  Artur marcaram um novo encontro.  E outro e mais outro ainda.  E  Artur não desapontava. Entre os encontros, Marisa continuava sua intensa atividade como advogada mas tinha a vida pautada  pelas  quentes sessões da tarde. Anestesiada pela paixão desistira de discutir  a relação com Fábio.  Falavam-se ao café da manhã , conversavam ao jantar e ocasionalmente  transavam  mornamente. Nada que se parecesse com  as horas  vulcânicas  passadas com Artur  em encontros  agora  regulares, três  vezes por semana.

Na segunda feira, ao marcarem novo encontro, Artur  lhe disse que se mudara para o apartamento de um amigo  em viagem ao exterior. Propôs que  se encontrassem  num café perto do prédio.  Higienópolis.  Marisa ficou encantada com o elegante apartamento do prédio na Avenida São Luiz.  Após dois meses de hotel, o apartamento era uma alternativa muito mais confortável. Ficaram alguns minutos na sala beliscando os sanduiches que Artur preparara para o almoço. Logo, irresistivelmente, entre caricias e beijos  foram  para o  quarto  deixando pelo caminho  as roupas, desnecessárias que são  para  os jogos de alcova.  Marisa de olhos semicerrados usufruía  as  manobras   lascivas do expert Artur  e nem ouviu a porta da frente se abrir.  De repente,  os dois fotógrafos invadiram o quarto  e  foi aquela série de fotos inegavelmente explicitas.  Marisa correu a se trancar no banheiro e  ainda ouviu os caras rindo e dizendo :

_ Tchau , madame,  pode sair e se vestir .  Artur tinha sumido.

Marisa se vestiu e foi para o escritório. Sabia o que viria a seguir. No dia seguinte, Fábio entrou com pedido de divórcio alegando  adultério contumaz e pedindo-lhe  a  exorbitante pensão de  R$ 15.000,00 mensais. Não havia muito que discutir. Ele tinha os arquivos das fotos . Marisa  acedeu  em pagar a pensão ao malandro  em troca  dos arquivos das fotos.  Fábio  enviou pelo  estagiário, o belo Artur,  os arquivos e  os documentos assinados  .



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