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Onde está Frederico? - José Vicente J. de Camargo



Onde está Frederico?
José Vicente J. de Camargo

Frederico voava a procura de algo que nem ele ao certo sabia...Estava triste, desanimado, não conseguia ordenar seus pensamentos. Ultimamente nada lhe dava certo. Brigara com os pais que não aceitavam seu relacionamento com o amigo, para ele, muito mais que isso...

Não! - lhe disseram. Não o educamos para sair por ai de mãos dadas e abraços com outro homem. Para nós isso tem outro nome que não é amizade e que não queremos ouvir aqui em casa ─ dissera seu pai quando lhe contara sobre o significado de uma amizade colorida. Sua mãe submissa,  tampouco lhe apoiou, nem sua irmã que mais se preocupava com o falatório da turma quando soubesse da preferência do irmão. No trabalho, com a crise à toda, as coisas iam bem. As vendas só caiam e as dividas aumentavam na mesma proporção. Além do mais seu relacionamento com a chefia ia de mal a pior. No esporte, a onda de má sorte também o pegou. Ao tentar barrar o atacante do time oposto, chocaram-se,  que lhe valeu uma tripla ruptura do tornozelo obrigando-o a um descanso forçado de seis meses,  e olhe lá...

Única saída que lhe restara na tentativa de por a casa em ordem, era o silêncio das alturas, a visão do espaço aberto ao infinito, a solidão da cabine do cessna monomotor com o qual tivera as primeiras aulas de pilotagem, tirara o breve, e há dois anos faz voos semanais de lazer pela periferia da cidade. Hoje era a primeira vez que voava numa distância maior. Sempre tivera o desejo de fazer a travessia da cidade à ilha de São Sebastião sobrevoando a serra do mar, o canal de São Sebastião e pousar na ilha paradisíaca de lindas praias de areia branca e fofa, mar esmeralda de águas translúcidas.

Sim, a natureza o recomporia dos problemas que o atormentam.  Trar-lhe-ia a paz e a calma para pensar como prosseguir, que caminho escolher entre a força do desejo e as convenções burguesas. Mas sabia que era fraco para enfrentar o que viria caso optasse pelo impulso do coração. Temia pelo futuro após a passagem da primavera em gozo. As coisas são bem mais fáceis quando adornadas pelo frescor da juventude.

E assim, com o pensamento em reviravoltas, sentiu-se rodopiar entre as nuvens em verdadeiro voo livre, segurando o manche que mais parecia uma pluma a tomar seu próprio rumo...

O aeroporto local da Ilha não acusou o pouso do cessna naquele dia quando indagado pela aeronáutica em operação de busca. Informou  porém, que aviões de pequeno porte algumas vezes pousam sem aviso ou permissão em praias desertas e planas da ilha ou em outras ilhas menores nos arredores. A falta de radar impede saber se isso ocorreu com o cessna. A mata fechada da serra também impossibilita a visualização de pouso forçado. Fica um segredo que só a floresta conhece, já que a caminhada a esmo, sem água e alimento é um quebra cabeça de difícil saída.

Os pais e a irmã de Frederico deram o caso por um lamentável acidente, choraram sua perda e transferiram ao tempo a tarefa de amenizá-la.

O amigo, porém não se conformou. Munido de acessórios básicos e alimentação que nem ideia tinha se correta ou suficiente, se emprenhou na mata seguindo o impulso do amor, para ele mais que possível, forte, que a tudo e a todos haveria de sobreviver. Sua felicidade o aguardava num canto aprazível da mata misteriosa...



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