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Fria vingança - Vera Lambiasi


Fria vingança
Vera Lambiasi

Anacleto, funcionário público do Estado do Amazonas, deu para agarrar na bebida.

Cumpria o horário da repartição, e se mandava para o bar.

Dali, para os jogos de azar, foi um pulo. Desde a fezinha logo cedo no bicho, até a roleta clandestina das madrugadas.

Esta vida desregrada acabou abalando o seu casamento.

Dona Esmeralda, até então plenamente dedicada, começou a se cansar da vida a dois.

Anacleto, verdadeiramente estúpido, colocou-a na rua.

Largada na sarjeta, coitada, começou a fazer programas como meretriz.

Anacleto a amaldiçoava, dizia não ser aquela sua esposa.

De mão em mão dos clientes violentos, Esmeralda, alcunhada na ocasião Jaqueline, adoeceu.

Foi parar no hospital público, até apodrecer de vez.

Anacleto, orgulhoso, não quis reconhecer o cadáver.

Anos mais tarde, transferido para outra região, conheceu Dolores, rica fazendeira dos seringais.

Propôs-lhe casamento.

Mas quando pediu o atestado de óbito em Manaus, foi-lhe negado, por inexistência do corpo.

Assim vingou-se a ex-esposa messalina.

Anacleto jamais conseguiu casar-se de novo.

Nem com rica, nem com pobre.



P.S. Exercício de classe baseado no conto de Lima Barreto, “A Mulher do Anacleto”

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