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SUA VACA! - Carlos Cedano


SUA VACA!
Carlos Cedano

Sou um cara informal e gosto das coisas olhos nos olhos! Sou de sorriso franco e atitudes espontâneas e falo sem meias palavras. Além disso, adoro festas e sou bom de copo. Tinha visto Luísa Maria em muitas festas, casamentos e até batizados que foram palcos de encontros casuais, mas nunca nos falamos nem  me aproximei dela.

Foi no aniversário de um grande amigo que a gente se falou pela primeira vez. Extrovertido e desenvolto como sou fui até ela e lhe ofereci champanhe, e me disse secamente:

Eu não bebo álcool!
— E, o que gostaria beber? Perguntei
— Água mineral.

Fui buscar o maldito copo de água,  e começava  achar que tinha me deparado com uma fresca, com uma menina mimada! Mas ela não sabia que adoro as frescas, gosto de derrubar castelos medievais!

Serenei-me, com paciência e muita saliva, aos poucos consegui que falasse,  inicialmente as respostas eram quase todas monossílabos e depois pequenas frases. Fui percebendo que ela era mais bonita quando sorria, além do que, usava um perfume inebriante que parecia derramado por todo seu corpo.

Como seria maravilhoso cheirar cada centímetro dela! - Pensei.

Minha paciência foi recompensada. Meses depois e após muitos jantares, teatros e concertos, já nos conhecíamos bem e tinha ganhado sua confiança. Um dia recebi sua ligação convidando-me para jantar no seu apartamento, sua mãe viúva estaria conosco, aliás seria ela quem cozinharia,  eu iria adorar me disse, mas antes que ela desligasse falei:

― Não se preocupe com a sobremesa e os vinhos, faço questão de levá-los. 
E ela concordou!

No dia do jantar e com a devida antecedência selecionei a roupa que vestiria, seria social chique. Tomei um banho caprichado e demorado. Depois fui para a doceira que  tinham me recomendado, as mulheres gostam muito de chocolate, escolhi o maior bolo e o mais caro! Também comprei duas garrafas de espumante da melhor qualidade. Agora só me faltava comprar um belo buquê de rosas vermelhas.

Quando saía da doceria uma senhora de media idade com seu carrinho de compras me atropelou literalmente, as garrafas e bolo se espatifaram no chão, tudo mundo olhou!

        ― A senhora não poderia ser mais cuidadosa quando anda? Disse furioso!

        ― É você que anda como uma lesma, não podia ir mais rápido? Retrucou a coroa e completou dizendo - Parece um velho!

Isso me machucou! Tive que usar todo meu autocontrole para não gritar um palavrão pra  velha!

Imaginem ter uma mulher assim como sogra! – gritei - Todo mundo escutou e riu. A velha desapareceu e fui me acalmando enquanto ia até o apartamento de Luísa Maria após ter comprado outro bolo e outras garrafas de espumante, decidi não comprar o buquê.

Ainda estava um pouco nervoso quando peguei o elevador até o sexto andar, apertei a campainha do apartamento sessenta e um e abriu uma menina que me disse que esse não era o apartamento da pessoa que procurava, era o cinquenta e um. Tinha me enganado, desci a pé para quinto, e apertei a campainha certa desta vez.

Quem abriu a porta foi Luísa Maria que me recebeu com um belo sorriso, foi nesse momento que enxerguei a velha vaca atarefada lá no fundo, na cozinha. Sem muito pensar e em voz bem disse para minha anfitriã inventando na hora uma tragédia familiar:

Querida, recebi agora enquanto subia uma ligação e fui informado do acidente de meu primo mais querido, ele está grave e chamando por mim no hospital, preciso ir embora com urgência!

 Ao mesmo tempo em que entregava à minha “petrificada” amiga o bolo e as bebidas,  saindo o mais rápido possível, quase voando, usando as escadas, e dizendo alto, muito alto:

        ― Ninguém merece uma sogra como essa! Ninguém merece uma sogra como essa! Sua vaca!


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