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Desencontros - Carlos Cedano


DESENCONTROS
Carlos Cedano

Maria estava atrasada para chegar em casa, antes tinha passado pela padaria onde comprou pão, leite e a mortadela, e agora acordar seu marido. Quando abriu a porta do pequeno apartamento escutou os ronquidos dele. Ufa, sorte!- Pensou - vou ter tempo para preparar o café da manha e bater um papinho com Beto mesmo que seja curto, estamos precisando!

O despertador anunciou quinze para seis da manhã, estava na hora do marido acordar, levou pra ele uma xícara de café para animá-lo, ele o aceitou com um sorriso de agradecimento, observou que o belo vestido de sua mulher a deixava mais desejável, puxou-a decididamente pra si enfiando sua mão entre as coxas, estava excitado e sua mulher correspondia com ardor! Porém o maldito despertador tocou novamente e interrompeu esse momento tão promissor.

Não teve jeito, o marido pulou da cama, vestiu-se rapidamente e correu pra o banheiro onde fez a barba, correu pra beber outra xícara de café, comeu a metade do sanduiche que ela tinha preparado, com a mesma pressa escovou os dentes e penteou o cabelo, beijou sua mulher dizendo estou atrasado, estou atrasado e saiu correndo quase esquecendo a lancheira!

Apesar do cansaço de sua jornada de trabalho noturno Maria, sacudindo a cabeça e com um sorriso, lavou novamente a louça que deixou por conta de seu marido. Sem arrumar a cama, tirou a roupa e se percebeu no espelho como uma mulher ainda muito atraente, deitou pra dormir no canto onde tinha dormido o marido ainda com resquícios de seu calor e do cheiro de seu corpo, dormiu agarrada ao travesseiro dele!

O despertador implacável a acordou às quinze horas. Vestiu uma blusa leve e calças jeans e com o cabelo quase sem pentear saiu para as compras no supermercado perto de casa onde comeu uma salada de verduras. Na volta preparou o jantar, limpou a casa, botou ordem nas coisas e colocou o lixo fora da casa. Também aprontou a marmita que comeria lá pra uma hora da madrugada no serviço.

Perto das dezoito horas Maria Luísa esperava a volta do marido imaginando seu percurso até o lar, era uma forma de realizar seu desejo de estar sempre junto com ele, acordou da fantasia e pegou a roupa que vestiria para ir ao emprego.

Entrou no banheiro, ligou o chuveiro, deixou esquentar a água e começou a passar sabão por todo o corpo. Beto chegou cansado, mas não resistiu à vontade de contemplar a silhueta de sua mulher através do vidro enevoado pelo vapor do chuveiro, ela era sua paixão e seu desejo feito mulher, decidiu tomar banho junto com ela porém subitamente abriu-se a porta do chuveiro, Beto já tinha tirado a roupa, mas se deteve quando Maria sorridente lhe disse: Oi amor você já aqui? Que bom por que o jantar está pronto!

A mesa estava arrumada com cuidado e a comida na mesa, mas ambos sabiam que esse momento era permeado por sensações de ansiedade causada pelo curto tempo para estarem juntos, até o próprio jantar perdia interesse e se transformava num ato mecânico.

O maior desejo deles era prolongar esse momento e olhar-se com a maior ternura e amor, mas o tempo “empurrava” a esposa pra rua, estava encima da hora para pegar o ônibus e logo o metrô e poder chegar a tempo no emprego. Seu marido teve apenas alguns instantes para beijá-la, apertá-la intensamente e sentir o palpitar de seu corpo pegando fogo! Agora seria ele que “acompanharia” Maria na sua viagem para a labuta.

Antes de ver a TV, Beto costumava arrumar as camas e até por as roupas pra lavar após o que, via um jogo de futebol ou um filme de aventuras e as últimas noticias. Quando o sono o invadia, levantava-se preguiçosamente do sofá, desligava a TV, as luzes e verificava se a porta estava trancada e se dirigia ao quarto. Viu as roupas que sua a mulher tinha deixado esparramadas sobre a cama, pegou sua blusa e a calcinha e as aspirou intensamente até “sentir” que Maria Luísa estava com ele, deitou-se no lugar que ela acostumava ocupar e dormiu no meio de sonhos repletos de amor e volúpia!


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