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Escolhas - Ises de Almeida Abrahamsohn


Escolhas
Ises de Almeida Abrahamsohn


        Dali a uma semana seria o seu décimo primeiro aniversário.

          Giovanna, o que você quer de presente de aniversário? -  perguntou-lhe o pai.

        Ah, meu pai, eu queria muito que você me matriculasse na escolinha de futebol!

        O que é isso, menina? Disse-lhe o pai, num tom de voz irritado. Já conversamos sobre este assunto. De jeito nenhum! Isso é coisa de menino!

         Mas pai, existem tantos times de futebol feminino... Veja os times nos Estados Unidos!

        Minha filha, aqui é o Brasil, não estamos lá. Mas, eu vou pensar no seu caso. Afinal, você sempre se deu bem no que insistiu fazer. - Argumentou o pai, finalizando a conversa.

        Giovanna ficou contrariada, mas as últimas palavras do pai lhe deram alguma esperança.

Sempre foi assim. - pensou ela - Desde que me lembro por gente. Eu adoro azul e detesto cor-de-rosa. Minha mãe queria tranças e eu adoro cabelo curto! Tão mais prático! Pedi uma bicicleta de presente e ganhei duas bonecas. Adoro ciências, mas em vez da oficina de robótica me matricularam na aula de balé, justo no mesmo horário. Eu até gosto um pouquinho do balé, porque afinal para jogar futebol é preciso agilidade. Mas eu já consegui muita coisa por mim mesma. Consegui a bicicleta como presente da madrinha e o skate ganhei do primo Júlio. Eles sim me entendem! Afinal, eu quero mesmo é que me deixem escolher o que gosto de fazer, e meu pai vive implicando comigo, sempre dizendo que isso é coisa de menino.   Eu amo futebol e quero ver se dou jeito para jogar de verdade. Meu amigo Vítor diz que eu sei fazer bem as embaixadas. Foi o que ele me disse ainda outro dia – “Agora você precisa aprender a driblar e chutar melhor”. Preciso bolar um plano para convencer o papai.

“Já sei” - pensou ela - Todos dizem que futebol bem jogado parece balé. Vou pedir ao Vitor e à Ana para me filmarem no celular e vou mandar para ele. Pelo e-mail, claro, porque no face ele vai implicar. Vou me vestir com o collant do balé. Aí eu começo fazendo aqueles passos chatíssimos de sempre do balé e quando o dad começar se entusiasmar com o que ele pensa serem os meus progressos, aparece em cena uma bola azul de futebol e eu começo a fazer as minhas embaixadas e malabarismos!

Assim pensado, assim foi feito. Após alguns treinos e muita paciência do Vítor e da amiga Ana, ficou pronta a filmagem. Giovanna conseguiu enviar o filminho intitulado “ Balé Moderno”, uns dois dias antes do aniversário.

Para “adoçar” o pedido, ainda escreveu no e-mail: “Para o melhor pai do mundo, uma surpresa. De uma são-paulina de coração”. Não que ela realmente o fosse, era mais corintiana, mas o pai era são-paulino roxo, então não custava bajular um pouco.

No dia seguinte cruzou duas vezes com o pai, mas este não falou nada. Na véspera do aniversário se alternava entre alguma esperança e absoluto desânimo. “E se ele se zangar? E se não tiver aberto a caixa de e-mail?

Finalmente, era a manhã do seu aniversário. O pai havia saído bem cedo para pegar um voo para o Rio de Janeiro. Giovanna encontrou-o ao descer para o café, uma grande caixa da loja “Ballerina” com um também enorme laço azul. “Para minha filha bailarina, feliz aniversário de seu pai”- dizia o cartão.

Pronto - pensou ela - Acabou! Ele insiste na história do balé! Eu sabia! E já com os olhos marejados abriu a caixa. Após camadas de papel de seda, a surpresa! Um par de belíssimas chuteiras femininas azuis – ele lembrara a sua cor favorita – e no envelope a matrícula na escola de futebol.


Junto, um bilhete! – Minha querida, se você não virar uma boa jogadora, certamente terá futuro como diretora de cinema! 

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