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A VIDA DE JUVÊNCIO - Oswaldo Romano


A VIDA DE JUVÊNCIO
Oswaldo Romano  
                                          
        Juvêncio vivia a vida que pediu a Deus.

Era a chamada vida mansa. Quando não ia ao cinema, vagueava sem destino pelo Shopping Vila Lobos.

        Circulava por todos os corredores já não tinha onde andar. Repetindo a andança pelos principais, dizia para si “aqui já passei”. O mesmo matutava o dono da loja, sempre sentado no banco em frente de seu estabelecimento: Lá vem ele, será que não se toca.

        É corriqueiro o proprietário olhar as pessoas transitando, na esperança de pararem em suas vitrines. São montadas como se montam as iscas para pescar. A torcida para que entrem, é grave.

        Isso não acontecia quando vinha o Juvêncio. Cabisbaixo  o proprietário deixava passar. Juvêncio até torcia para não ser olhado. Nesse momento ele mesmo sentia-se  envergonhado, tantos corredores, ele ali, sentia-se viajando na maionese.

        Poucos lhe davam atenção. Era considerado o verdadeiro grude. Aquele que sem ser convidado, se detém para uma conversa mole. É o costumeiro blá, blá, blá. Um papo oco. Sai da ponta da língua sempre a mesma bobagem.

        Encabulado ao passar pelo segurança mostra um sorriso amarelo, como aquele que se dá a mãe segurando a criança chorona.

        Eu sou frequentador dos restaurantes do shopping. Único lugar onde ainda me sinto razoavelmente seguro. Isolo-me das ruas desta cidade, recheadas de bandidos. Aqui os bandidos são monitorados. Perguntei ao segurança: — Oi, tudo bem. Estranho esse cara que vai aí na frente, não?   É alguém perigoso? A gente vive desconfiando.

        — Que nada! É mais um saco de merda que circula sempre por aqui!
Seguindo pensei...


Não caiu bem esse “mais um”.

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