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Vizinhos sinceros - Oswaldo Romano



VIZINHOS SINCEROS
Oswaldo Romano

— Oi Moreira, como vai? Corre boato que vocês vão nos deixar?

— Olha Gerêmias, infelizmente não é boato, não. Digo infelizmente sem muita certeza por que as coisas correndo como prometem devo agradecer tamanha oportunidade.

— Com alguma tristeza pedindo vênia pela sinceridade, digo: Felizmente. Felizmente a sorte bateu na nossa porta.

Bem que gostaria de ficar aqui, controlar daqui a nova gerência, perto de vocês, que tanto queremos bem. E as crianças, então?

Certamente nos entendemos, mas as crianças... As crianças, diria coitadas. Sinto com essa palavra o quanto difícil será essa separação. Pouco, ou quase nada sabem da nossa obrigação. São como pombos que nunca esperam abandonarem seus ninhos. Imaginam que o trabalho vem a nós, e não nós é quem devemos procurá-los.

Pois é Moreira. Gostaria de combinar com você como vamos administrar essa separação. Vamos falar a mesma língua. Deixar acontecer a separação deles, tão unidos que são, dá pena.

Eu não tenho outra opção. O que estou ganhando aqui, e com o incessante aumento do custo de vida, não consigo nos manter. Preciso evoluir, ganhar um pouco mais. Vou alugar esta casa por um valor superior ao que pagarei lá. Só nesse lance já sobram uns quebrados.

— Tomara você alugue para gente boa.

— Moreira, que tal combinarmos que essa separação é temporária e que nesse meio tempo, aos sábados e domingos faremos um revezamento?

— Isso Gerêmias. Bem falado. Sua sugestão é boa. Podemos ainda passar fins de semana na praia, ou no sítio.

— Não temos casa na praia, Moreira!

— E nem temos sítio Geremias!


— É verdade! Devemos trocar só as figurinhas que temos. Com seu novo ganho, talvez um dia...

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