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Bendita sogra - Fernando Braga


Bendita sogra
Fernando Braga

Viviam como dois passarinhos apaixonados, ele com 26 e ela com 22 anos. Moravam no interior e logo tiveram duas filhas, com pequena diferença de idade. Bem na hora em que ele estava crescendo em seu negócio, foi vítima de um tumor maligno, que em pouco mais de seis meses, levou-o ao óbito. 

Ainda bastante jovem, com 30 anos, guardou um luto de dois anos, quando então se mudaram para São Paulo, vindo morar com seus pais, tio e irmãs, prometendo consigo mesma, em memória de seu marido, que tanto amou, não se aproximar jamais de outro homem. Suas filhas cresceram, estudaram e a mais nova, com apenas 18 anos casou-se com um médico recém-formado, de boa família.

 Logo engravidou, mas, foram avisados pelo obstetra que havia entre eles, uma   incompatibilidade  sanguínea ou seja, ela era RH negativo e ele era positivo. Havia a possibilidade do feto ter problema, ou conseguir sobreviver, mas logo após nascer, teria que receber  uma  transfusão, dada a debilidade sanguínea, que iria advir em consequência dos anticorpos que se formariam,  contra os glóbulos vermelhos do feto.

Como médico, ele sabia da gravidade da situação, o que foi bem explicado para sua esposa A gestação continuou, mas com seis meses ela abortou, certamente pelo problema presente. Aquilo virou de ponta cabeça os dois, que adoravam criança e perderia para eles, o sentido da vida. Tinham que evitar de toda a maneira uma nova gravidez. Tudo foi possível com o uso do Diu e depois com as pílulas anticonceptivas.

Sua irmã, que havia se casado depois, já tinha um filho e já estava grávida do segundo, o que fez com que Cecilia mais se desesperasse. Gostava demais de seu sobrinho, que era um doce, mas sentia-se frustrada o que era confidenciado a Otavio, seu esposo. A sogra, sua mãe, agora com 45 anos, sugeria sempre a eles que adotassem uma criança, que a casa tornar-se-ia uma grande alegria.

Cecília lia muito sobre adoção e não conseguia esquecer-se da história, em que os povos antigos e depois os gregos e romanos, consideravam a fertilidade vinculada à noção do bem e a infertilidade à noção do mal. O pior era a morte sem deixar filhos.

Ela chegou a receber uma orientação psiquiátrica, tal a piora de seu estado interior de frustração.

Foi quando Otavio, um belo dia aproximou-se dela e confessou-lhe que havia conversado com um colega  Gineco-Obstetra, que havia sugerido que arrumassem uma barriga de aluguel ou melhor, aceitassem uma reprodução humana assistida.

Conversaram longamente, ouvindo uma música suave e dividindo uma garrafa de vinho, para que ela entendesse a situação. Estava difícil de convencê-la, mas criou sentido quando ele disse:

— Pode não usar uma estranha, mas sua própria mãe, que gerou duas filhas sem problemas, está ainda muito, muito hígida, saudável e ainda não fez os 50 anos. Poderia ser a figura ideal, caso ela aceite. Eu próprio seria o doador dos espermatozoides, que seriam colocados em seu útero através de uma inseminação artificial, feita por um colega especialista.

Ela pensou, pensou e finalmente disse: -  amanhã vou falar com ela!

Chegou em sua mãe e enfatizou:

— Mamãe, vou precisar muito de você! Aceite, aceite!

— Aceite o que minha filha?  sabe que faço tudo por você!

— Eu e Otavio, queremos muito que você seja nossa barriga de aluguel. Você poderia gerar um filho para nós, emprestando seu útero, usando o sêmen do Otavio, fazendo a inseminação artificial. A mãe ficou muda, nunca esperando ter que responder a tal convite, mas com a cabeça, acedeu. Foi-lhe explicado o procedimento do começo ao fim. Terminou dizendo:

— Olha filha, não tenho que dar satisfação a mais ninguém nesta vida, desde que seu pai morreu. Aceito e quero ter mais um netinho, e seu. Pode marcar! Pelo que conheço, são poucas, neste Brasil imenso, que são mãe e avó ao mesmo tempo, de uma mesma criança.

Otavio se encarregou de todos os preparativos, exames de sangue, mostrando que sua sogra era RH positivo, portanto sem problemas, além de um check-up geral, dele e da sogrinha.

O procedimento foi feito e o embrião se formou. A maior alegria foi ver crescendo a barriga da sogra, o ultrassom mostrando tratar-se de uma menina, aparentemente sem problemas. Quando iam visitar a sogra grávida, Otavio não se cansava de alisar a barriga volumosa da mesma e beija-la candidamente.

Nasceu uma bela menina, perfeitinha, parecida com o pai, diziam todos! Todos os familiares próximos, amigos da sogra, de Otavio e Cecília vieram fazer visita e ficavam encantados com a menina e muito com o progresso da medicina. Otavio, vendo todo o sucesso, brincava com a sogra, quando todos estavam presentes:

— Sogrinha querida, que tal se continuarmos com a nossa prole, sem inseminação?

Sua mulher, na terceira vez que ele assim brincou, tirou seu sapato e com o salto fino, bateu-lhe fortemente na cabeça dizendo:

— Na próxima brincadeira, com esta piada, vou te dar uma facada no peito! Ele parou por aí.

Na realidade, em seu íntimo, o que ele queria mesmo, era ter engravidado a sogrinha, por depósito direto!  Mas... Sensatamente, bloqueou sua mente. 

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