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O HOMEM QUE NÃO VOLTOU - Mario Tibiriçá




O HOMEM QUE NÃO  VOLTOU
Mario Tibiriçá

Ela  falecera há tempos.

Ele já havia esquecido de como eram convidativos seus olhos, sua voz cativante, e beijos maravilhosos que só ela sabia dar.
João  Pedro Ferreira,  trinta e dois anos, aos poucos perdia a memória de  Jandira sua mulher...

Moravam há anos naquela casinha, não tinham  filhos,  e João Pedro agora não pensava mais em casamentos. Estava  apenas dedicado ao seu trabalho.

Artesão de  acessórios para encilhar cavalos, mulas de carroças, selas especiais e arreios  em geral, havia montado na cidade, uma loja com pequena oficina, onde comercializava seus produtos.

Não  havia sitiante, fazendeiro e mesmo morador dos arredores,  que não conhecesse João Pedro.

Todas  as manhãs lá estava ele abrindo sua loja para a exposição dos produtos e oficina ao fundo.

Recentemente passou por sua loja, um cidadão do sul do país, turista, que apreciou bastante seus produtos, e até mesmo fez interessantes comentários, sobre seu provável sucesso, naquela região. O assunto  perturbou João Pedro.

À noite em seu catre, pensou muito sobre o assunto. As princesas dos sonhos dos outros, passeavam sem freios no seu pensamento. Ele nunca quis ser amorfo no mundo.

Era  feliz alí, tinha bons amigos , era respeitado e não tinha  inimigos, mas a gloria noturna de ser grande não sendo nada, atiçou sua resolução :  VOU EMBORA PARA O SUL.

No dia seguinte a lojinha não foi aberta, nem depois, nem depois, nem depois....

Os vizinhos amigos, os desconhecidos, e todos se espantavam pelo desaparecimento de João Pedro. Este fora embora.

E o tempo passou...

As crianças cresceram, a cidade cresceu e João  Pedro não viu.

No sul rico, ele procurou uma cidade média, próxima de fazendas, gado, sitiantes e agricultores, montou sua loja e a pequena oficina.

Após algum intervalo doloroso, horas  lentas e vazias, começou o sucesso. Em poucos anos sua técnica na fabricação de freios para  cavalos,  foi integralmente adotada pela população local.

Suas selas, frequentavam  páginas das notícias de  bons negócios.

Seu trabalho fora reconhecido.

A radio da cidade o entrevistou, e o jornal local, fez longa matéria com ele, fotos pessoais, além de  notícias sobre  seus materiais.

Alguns dias depois, numa banca de jornais de Palmeira dos Índios, um cidadão começou a gritar :  NÃO É POSSÍVEL ! NÃO  É POSSÍVEL !!!! A reportagem do jornal é sobre  João Pedro, nosso conterrâneo, tem até  fotografia, ele não mudou!
Acorreram  muitos, amigos, parentes, conhecidos e desconhecidos!

João Pedro exaltado pela reportagem era cidadão de Palmeiras dos Índios, motivo de orgulho de todos. Ele não  voltou, mas embora o intervalo doloroso,  a alegria do sucesso o colocava como representante da cidade .



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