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Única Vergonha - Crônica de Mario Augusto Machado Pinto



ÚNICA VERGONHA.
Mario Augusto Machado Pinto

Enquanto ele fala, lembro-me que no avião, vindo pra cá, um pensamento indagativo não me dava sossego: o que o deputado quis dizer com é pra falar sobre meu – dele - desempenho? Num sábado pela manhã na hora do seu “jogo de tênis”? Deve ser coisa séria. Quem avisa a “parceira”? Não me pediu; então vai ser ele mesmo. Só queria ver. Vai ter bronca da grossa.

O nosso encontro foi pelas dez horas, aqui no parque em frente ao escritório. Ainda bem. O entorno é bem cuidado, gramado ótimo, flores aos montes, árvores com muitos ninhos. Tem passarinho a dar com pau e mulherio pra gastar os olhos. Dá pra pensar na “morte da bezerra”, distrair, passar um tempo. De vez em quando é bom, o ambiente é propício e aceita o descarrego de tensões, frustações, raiva e mau humor e muito mais, como se diz hoje em dia.

Recorda-se que nosso conhecimento vem de quando ainda era um jovem promotor, sério, irredutível na aplicação da Lei e cobrador exigente de inquéritos feitos sem falhas e no prazo. Não titubeava em chamar a atenção dos Delegados e suas equipes. Isso lhe deu prestigio, vasto conhecimento da natureza humana e fama espalhada por todas as cidades ao redor da comarca. O pessoal até dizia Caiu nas mãos dele, danou-se, o que não era bem verdade.

Foi o possível aproveitamento desse conhecimento e projeção que deu ao Prefeito a ideia do convite para entrar na politica.  

Aceito! Lembra-se. Foi surpresa, minha e de muita gente e mais ainda, que fiquei sem folego ao falar que me queria ao seu lado e me explicou que eu seria assim como quê o fiel escudeiro e como era tempo de surpresas, aceitei na hora, sem mais pensar.

Enquanto ele fala relembro coisas: conheço da vida e dos milagres dele e ele dos meus; há respeito mútuo. Estamos indo para o quinto mandato de Sua Excelência começados no “baixo clero” da Câmara. Com voz pequenina no inicio, foi sendo ouvido e em três anos já possuía seguidores que não aceitavam ser parte do BBB (Bíblia, Boi e Bala) e verberavam contra o aparelhamento dos entes governamentais. A partir do segundo mandato teve indicação para Comissões investigativas onde se destacava por sua combatividade e conhecimento. Fazia da politica parte integrante, mas não frontal da sua atividade parlamentar. Por “não ter papas na língua” eu lhe dizia que se cuidasse. Ele não dava importância.

Ele falava e tornei a escutá-lo:

- Apresentei projetos referentes aos transportes e à saúde, à segurança pessoal e nacional, ao controle dos gastos públicos exigindo plena transparência e apoiei muitos outros. Quando contrário, justificava antecipadamente minha posição no partido de modo a não haver dúvida quanto ao meu pensamento. Angariava prestigio e poder cada vez maiores e deles fazia uso parcimonioso.

-Minha atuação politico - partidária era focada na lisura de propósitos, não dava tréguas ao desperdício, à atividade lobista ou de despachante de luxo a que deputados eram reduzidos na maior parte das vezes ao querer tratar de seus projetos ou obter informações do andamento de outros devido à atuação sabotadora inconsequente dos representantes do Governo Federal.

- Da tribuna da Câmara, nas reuniões partidárias, nas comissões em que fui membro denunciei a corrupção de desde sempre e que na atual legislatura alcançava todas as mais importantes figuras do Legislativo e algumas do Executivo. Ficou marcada a minha frase “O mar de lama saiu do Catete e chegou a Brasília”. A desilusão, o cansaço, o malhar em ferro frio, estavam me atingindo.

Rememorando e escutando não me fez surpresa sua opinião sobre o que se passava com os responsáveis pela condução do país. Atentei.
Acusava:

Eles se esquecem de que são eleitos pelo povo para representá-lo no Congresso e no Planalto.
Eles se esquecem de que também são do povo e ao povo retornarão.
Eles se esquecem do que o povo precisa.
Eles se esquecem do país que devem governar.
Eles se esquecem da segurança e do bem estar da população.
Eles se esquecem de que aqui vivem suas famílias.
Eles se esquecem e escondem aos sem teto e desempregados a casa e o dinheiro possuído no exterior.
Eles se esquecem de que quem estende a mão não quer agredir: pede, quer ajuda e não esmola.

ELES SE ESQUECEM DE QUE O POVO IGNORANTE, MARCADO E FELIZ UM DIA SE LEMBRARÁ DO QUE FAZER PARA TER VIDA MELHOR E DIGNA.

ELES SE ESQUECEM DE QUE NÓS, O POVO, JÁ NOS PERGUNTAMOS: ATÉ QUANDO QUANTO AGUENTAREMOS?


PARA ELES, ESSES POLÍTICOS, A ÚNICA VERGONHA É PERDER ELEIÇÃO... E UMA “BOQUINHA”.

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