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Suspense na estrada - Fernando Braga


Suspense na estrada
Fernando Braga

Noventa anos! Uma festa à nossa sogra, oferecida por meu cunhado, em seu sítio próximo a Salto. Para tão importante reunião, toda a família fora convidada, vindo parentes de várias cidades do interior, a maioria da capital. Foi um regozijo geral, pessoas que há muito não se viam, uns agora bem velhos, os filhos, os filhos dos filhos, namoradas dos filhos e dos netos, enfim um grande acontecimento. A sogra, parecendo uma galinha angorá, querendo mostrar as suas penas, muito feliz por ver toda a família reunida, mas... sempre comentando sobre a ausência destes ou daqueles que, Deus havia chamado.

Foi lembrada por todos como uma mulher vitoriosa, aberta, de fibra, que apesar de ter ficado uma viúva aos 40 anos, tocou sua vida, criou as duas filhas, ajudou seus semelhantes, sempre dentro de um espírito abnegado e invejável. Estava como um acaçá. O ponto alto foi seu encontro com o irmão mais novo com 84 anos, que não via há 10 anos. Abraçaram-se, se beijaram e um ficou olhando para a cara do outro como se estivessem extasiados. O irmão, era um professor aposentado, que vivia noutro estado, tido como culto e que gostava de mostrar os seus conhecimentos, quando houvesse uma chance. Certo momento aproximei-me da mesa em que estava sentado, rodeado de ouvintes e o ouvi dizendo:

— Sou um bardo, debicador, fecundo, aforista, repetindo em seguida, os dizeres de Pessoa: “valeu a pena, valeu! Sempre vale a pena quando a alma não é pequena!”.

  A sogra bebeu e comeu como se tivesse 30 anos, fez um discurso breve e repetiu duas vezes que, quando ficasse velha não queria nunca andar em uma cadeira de rodas. Nunca se sentiu velha!

 Ao entardecer começaram as despedidas e cada um tomou seu carro para a volta. Estávamos em dois carros, um deles eu guiava, conduzindo minha esposa na frente e atrás a sogra, e um de meus filhos,  e no outro carro, dirigido por meu filho mais velho, sua esposa e o outro filho, com sua namorada. Saímos juntos do sitio, tomamos a Rodovia do Açúcar, passamos ao lado de Itu e logo após, foi feita a curva sobre a rodovia Castelo Branco para entrarmos em sua pista, via São Paulo. Ele, ao entrar na Castelo, o fez com imprudência, pois um carro que vinha em grande velocidade, na pista externa, teve que desviar abruptamente seu curso. Quando entrei na rodovia, ele já estava uns 500 metros na frente. Havíamos combinado pararmos no primeiro posto para abastecimento e um café. Ao pararmos nas bombas, ele saiu do carro e veio falar comigo:

— Pai, você viu que desgraçado, que abutre, que animalaço? Um carro amarelo com um moço japonês guiando, tentando bater em meu carro, tentando me jogar fora da estrada? Ele abriu a janela, gritou como louco dizendo que ia me matar!

— Não, não vi! Eu estava uns 300 metros atrás! E ele onde está?

— Foi embora, felizmente paramos neste posto.

Tomamos nosso café e saímos, ele na frente. Logo que saiu, pegando a estrada, vi que saiu um carro amarelo em grande velocidade, que estava parado próximo à saída do posto. Logo percebi que devia ser o japonês, esperando acertar uma vingança, que colocara em sua cabeça. Acelerei e fui ao encalço dos dois. Percebi tudo e notei que o japonês queria bater na traseira do carro de meu filho para que se acidentasse. Nesta hora eu também fiquei louco e procurei emparelhar com o carro amarelo. Meu filho sentado atrás, abriu a janela, pôs meio corpo para fora, pegou a raquete de tênis e jogou-a contra a janela do outro carro. Nesta altura, criou-se o maior reboliço: eu tocando a buzina fortemente, minha sogra gritando dizendo que não queria morrer no dia de seu aniversário, minha mulher pedindo que desistisse, mas naquele momento eu nada ouvia, estava possesso, procurando defender meu filho e os demais. Quando o japa percebeu que estava sendo espremido e que havia outro carro na jogada, resolveu salvar sua pele, acelerou seu carro, que era potente, ganhou distância e sumiu, quando então diminuímos nossa marcha. Seguimos a viagem juntos, observando se o infeliz não estava parado nos aguardando, novamente. Perdemos uma valiosa raquete de tênis. Todos nós, tivemos um grande momento de suspense e emoção, onde podíamos ter sofrido um acidente grave. Por isso, não devemos andar armados!


Minha sogra contava a todos este acontecimento, com um espírito muito gracioso e divertido, que marcou os seus 90 aninhos.

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