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AS PESSOAS E SEUS CELULARES - Crônica de Jeremias Moreira



AS PESSOAS E SEUS CELULARES
Jeremias Moreira
Estilo: Crônica

Nasci nos anos 1940 e vivi a infância, a adolescência e a juventude nos anos 1950/60. Num mundo muito longe de ser informatizado. Ontem ouvi uma menina, que sequer teria onze anos, mas que portava dois celulares, dizer surpresa para outra, que afirmara não possuir o aparelho: “Credo! Como você viveu até hoje?” A pergunta da menina me remeteu ao passado, quando vivíamos sem os celulares. A vida corria ao som da Jovem Guarda, dos Beatles, da Bossa Nova e por aí afora. Tivemos Garrincha e Pelé. O suicídio de um presidente e deposição de dois. O país mergulhou numa ditadura militar. Veio a abertura política e sobrevivemos a tudo isso sem a existência desse milagre da comunicação. É inegável que o celular tornou a vida mais prática. De qualquer lugar, fala-se com quem precisamos. Mandam-se mensagens. Orientamos-nos pelo GPS. Chamamos um taxi, de onde estivermos. O celular nos mantém conectados com o mundo. Mas, aí que reside um grande perigo. Hoje, um grande contingente humano não consegue se desconectar. Nomofobia é o nome desse distúrbio moderno. Para muitos, somente a ideia de ficar distante do aparelho, mesmo que esteja com ele nas mãos, é assustadora. Presenciei numa lanchonete, um grupo de seis jovens e cada um deles, absorvido pelo seu próprio aparelho, se comunicava sabe-se Deus com quem, enquanto entre eles o diálogo era monossilábico. Diante desse mundo digital e dos smartsfones, no que me diz respeito, prefiro os Beatles e a Bossa Nova e sonho ter Garrincha e Pelé de volta.

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