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Quem Matou Quem? - José Vicente Jardim de Camargo


Quem Matou Quem?
José Vicente Jardim de Camargo



A vizinhança toda não comentava outra coisa a não ser o assassinato do casal da casa amarela de janelas brancas:

— Amélia matou Roberto com dois tiros a queima roupa! - dizia um

— Não! Retrucava outro.  

— Roberto matou Amélia por ciúmes e depois se matou...

— Não é possível, pois o revolver estava nas mãos de Amélia!

— Sim, depois de matar Amélia, Roberto colocou o revolver na mão dela e puxou o gatilho contra si, dando a impressão de que ela o matou... Roberto queria por a culpa nela pela sua morte... Uma vingança e tanta por ela o ter traído com o Paulinho, seu personal-trainer!

— Mas, os vestígios de pólvora foram encontrados pela policia nas mãos de Roberto...

— Certo, mas as impressões digitais encontradas no revolver são de Amélia...

Na discussão acalorada se aproxima um terceiro vizinho que atento ouve e intervém:

— Vocês não têm desconfiômetro? Está na cara, que foi Paulinho quem matou os dois e construiu a cena do crime para despistar a policia...

— Impossível! Brada um dos primeiros discutidores... Paulinho está de casamento marcado para mês que vem com Joana. Não faria uma coisa dessas e, depois, esse tal de romance dele com Amélia é pura fantasia  daquela ciumenta da Rosa, que jurou se vingar dele quando a deixou...

— E não é que eu vi a Rosa rondando por aqui dias desses... Comenta outro dos debatedores. Quem sabe foi ela? ...

— Deixe de besteira, homem! Rosa, conheço bem, morre de medo de barata, revolver nem de brinquedo seguraria! - Retruca outro - Para mim muito mais suspeita é a Joana, a noiva de Paulinho... Tem jeito de não engolir desaforos, deve ter pego o noivo nos agarros com Amélia...

Um quarto vizinho que passava pela calçada, vendo a discussão calorosa, logo adivinhou que devia se tratar do crime da rua e, pedindo desculpas, foi logo dizendo:

— Pensando bem o crime não compensa, são coisas da vida, quem matou...
— Chega! - Interrompem os demais que discutiam:

— Sapo de fora não chia! Estamos nos finais de descobrir o assassino e nenhum palpite mais será aceito...

O sujeito se afasta, e pensa consigo:

— Idiotas! Se metendo a detetives... E eu, querendo tirar esse peso da consciência, quase confesso minha culpa pela morte de ambos. Não aquentava mais as criticas deles sobre meu comportamento, meu gosto pela vida noturna, minhas visitas...

“Esquizofrênico!” - me diziam. “Vamos dar queixa... Tem de ser internado...”.
Mal sabiam eles que sou fanático por revistas de crime. Foi só misturar algumas histórias e ter a cena perfeita... Mas, pelo menos tentei confessar, o destino não quis...


Agora, espero que aquele cara do fundo pare de me encher o saco dizendo que a noite é para se dormir e não para tocar bateria...

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