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Aquele ladrãozinho - Fernando Braga


Aquele ladrãozinho
Fernando Braga

Moravam em uma boa casa no Alto dos Pinheiros, onde, no verão chuvoso, era invadida, frequentemente, por uma multidão de pernilongos, provenientes do poluído rio Pinheiros, além de multidão de baratas, que entravam pelos ralos e se dirigiam mais à cozinha,o que trazia muito incomodo noite e dia.

Há alguns anos, um intruso resolveu, sem convite, participar da convivência da família. Entrava sempre à noite, sorrateiramente, após todos se recolherem. Não fazia qualquer barulho suspeito.

 Começou-se a perceber sua presença quando pelas manhãs, se observava que qualquer alimento deixado encima da mesa,    apareciam parcialmente roídos e tinham que ser desprezados. A suspeita logo recaiu sobre a presença de um roedor, o mais comum deles em nossa cidade. De onde vinha ele, como entrava em casa, como saia, ficava escondido dentro de casa em algum armário, no piano, onde afinal? E mais... como conseguia subir na mesa da cozinha, mesmo após as cadeiras terem sido afastadas? Impressionante como o pequeno animal executava diariamente a mesma missão. Certa ocasião, tarde da noite, ao voltarem para casa, subiram as escadas para irem quando por eles passa velozmente o roedor, que em um pulo sensacional, saltou uns quatro metros, para cair no hall de entrada e desaparecer. Ele desceu rapidamente as escadas e munido de pau e vassoura, tentou localiza-lo debaixo dos móveis, atrás das portas, na cozinha, mas tudo em vão. A mulher, apavorada ficou encima da cama. Por que mulher tem tanto medo de rato?

No dia seguinte, ele foi comprar veneno e uma ratoeira, destas de arame, em que se coloca no interior um pedaço de queijo. Deixou como isca alguns alimentos sobre a mesa da cozinha e sobre uma pequena geladeira no andar superior. Não é que o bichinho comia os alimentos, subindo nos moveis, mas nem tocava naqueles que estavam envenenados. Era muito, muito espertinho. Sentiram falta de não terem um gato, mas ficaram muito preocupados com o cão, que ficava no quintal e que poderia vir a ingerir alimento contaminado, colocado para o roedor.

Mas, com tanta coragem, certo dia, o esperto roedor cometeu um erro.

Analisando como o rato poderia entrar em casa, eles observaram que, na porta lateral de vidro, que dava para um jardim lateral e depois para a rua, havia um pequeno espaço entre a porta e o res do chão, de uns dois centímetros de altura ou pouco mais. À noite, preencheu o vão com jornal dobrado, fechando completamente o espaço, por onde o inimigo poderia entrar. No dia seguinte, pela manhã, foram à cozinha e viram que bananas estavam comidas, logo o rato havia entrado e talvez habitasse algum cômodo da casa, onde se escondia de dia. Contudo, indo ver a porta lateral, se surpreenderam ao ver que o jornal havia sido roído e aberto um vão. 

Hah! disse ele:

- Agora te peguei! Foi o seu primeiro, mas grande erro!

Ele saiu, foi à Romano, uma famosa casa de material de construção e lá comprou um pega rato, ou seja, um  papelão  grosso, com duas abas, que se abrem e dentro está uma espécie de cola espessa, que prende as patas de qualquer animal pequeno, que passe sobre ela. Este dispositivo foi colocado junto à porta evidentemente, do lado de dentro.

No dia seguinte, lá estava o rato, de tamanho médio, preso por suas patas e barriga.

Com dó, ele ainda pensou em poupar o tão esperto animalzinho, mas a esposa, imediatamente, intimou-o a jogar o bicho no lixo, junto com o  pega rato.


É exatamente isto o que acontece com bandidos, que pensam estarem sempre imunes, mas acabam por cometer algum deslize, que vai lhes custar a liberdade.

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