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A MISSÃO - Suzana da Cunha Lima



A MISSÃO
Suzana da Cunha Lima

Amor querido...

Nunca pensei que isso fosse  acontecer conosco, um dia.  Era tanto carinho, tanta alegria quando estávamos juntos... Lembro-me do contentamento que sentíamos nas menores coisas que fazíamos: no espaguete que cozinhou demais, no quarto que pintamos de amarelo, nos banhos de rio onde brincávamos pelados, às gargalhadas, como crianças.  Daquela praia deserta onde rolávamos nus, fazendo amor,  cobertos pelo banho de prata de uma esplêndida lua alcoviteira.

Eu vivia suspensa na vida, como se não tivesse mais peso e nada me afetava, nada me irritava nem me afligia. Você ocupava meus espaços com pura felicidade.

Até que um dia você me deixou.  Assim, do nada, sem motivo, briga ou desavença. Simplesmente foi-se embora, sem explicações, queixas ou remorsos.

Apenas me agradeceu pelos bons tempos que havíamos desfrutado, afirmando que eu havia sido um raio de luz em sua vida conturbada.  Mas que, daquele momento em diante, tinha que voltar para sua missão.

Que missão seria esta? Que vida conturbada? Quão poderoso era este apelo que o afastava de mim, talvez para sempre? Eu perguntava quase histérica ao lhe ver pegar a mochila e se dirigir para a porta.  

Mas você nada respondeu, apenas sorriu meio triste e me mandou um beijo com as pontas dos dedos. E eu fiquei ali, como um trapo, uma coisa qualquer que não tem mais serventia, olhando para aquela porta que se fechava à minha frente.


Dias depois,  ainda totalmente desorientada por tamanha dor, vi espantada, num jornal, sua foto, na primeira página. Coberto de sangue e ainda segurando o fuzil, morto no chão poeirento da Palestina.

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