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Um lavrador muito pobre - Suzana da Cunha Lima


Um lavrador muito pobre
Suzana da Cunha Lima

Manoel tinha estranhas alucinações. Sempre se via numa galáxia, com seres extraterrenos, pilotando naves espaciais. Ora, nunca tinha ido ao cinema, jamais vira filmes de ficção científica. Sua realidade era bem diferente: lavrava seu pedaço de terra com suor e esperança que suas  hortaliças e  frutas pudessem competir com as grandes cooperativas, pois não usava agrotóxicos e tinha que cuidar muito para que as pragas não acabassem com todo o seu esforço.  E ainda se sujeitar aos preços baixos que pagavam por tanto trabalho e sacrifício, porque tinha mulher e filhos para sustentar, todos dependentes dele.

Era um homem dedicado e persistente. Bom pai e esposo. Porém, sentia uma espécie de vazio em sua vida: uma sensação de não pertencimento, como se não fosse dali, daquele lugar tão pobre e tão apequenado de ideias.

Sonhava alto, queria conhecer o mundo e quem sabe, dizia, as estrelas, que surgiam esplendorosas no céu sem poluição daquele lugarejo. Era obcecado por elas
Um dia, estava retirando os tomates da carroça para mostrar ao comprador, quando surgiu um homem bem vestido acompanhando o dono da cooperativa local, que  o interpelou:
— Você é daqui mesmo, Manoel? Tem olhos azuis e é tão branco.

— Que eu saiba sou, doutor. – respondeu já cansado daquelas perguntas que todos lhe faziam, sobre a cor de seus olhos e pele., numa terra de gente escura e acaboclada, de cabelos encarapinhados., mas achava que isso não era da conta de ninguém. Tinha sido deixado na porta de um casal muito pobre, que o acolhera com todo o amor e carinho, e sempre destoara de todos.

— Bom, o pessoal diz que você foi  deixado na porta de alguém. Isso não  é nenhuma desonra não, meu filho. É que consta uma queixa de desaparecimento de criança há muitos anos, na comarca onde sou delegado e o casal queixoso é assim do seu tipo, bem claro. Talvez eu precise fazer exame de DNA para tirar a dúvida, mas sem gasto para você. O casal paga tudo,  só quer ter certeza se você é o filho perdido ou não. Já estão nisso há muitos anos, e não desistem. É um casal já de idade, mas muito rico, sua vida pode mudar muito.

Manoel resolveu fazer o tal exame, para calar a boca dos faladeiros, e, quem sabe, ter um pouco mais de tranquilidade financeira na vida.

O resultado surpreendeu a todos. Seu tipo de sangue não pertencia a nenhum grupo conhecido, nem parecia de um ser humano.  Foi uma confusão geral!  Enviaram a amostra para a NASA, para um Departamento especial que tratava dos OVNIs e possíveis ETs que diziam, a Nasa mantinha num local secreto para estudos.

A NASA informou que aquele tipo de sangue era igual a um ET que haviam estudado há algum tempo e que morrera, porém não era puro, não apenas de um ET. Havia sangue humano ali também. Certamente a mãe da criança tinha sido fertilizada por um ET, para estudos deles, da possibilidade  de cruzamento de Ets com humano, que, se desse certo, provariam que seriam da mesma espécie. Com a tecnologia da NASA, puderam verificar que o sangue humano era de um tipo conhecido, ou seja O negativo.  Justamente o tipo de sangue da esposa daquele casal.

Manoel era o resultado do cruzamento de um extraterrestre com um humano, um caso insólito e muito singular.  A NASA manifestou o desejo de levá-lo para os EUA, junto com seus filhos,  para estudos acurados, pois, subitamente, ele se havia tornado uma preciosidade genética.

Manoel não gostou nada deste convite. Não era um objeto para estudos, uma coisa que suscitava curiosidade. Era um homem, sentia-se um homem, porém, lá no fundo, sua saudade da vida estelar, seus sonhos e alucinações começaram a fazer sentido.

Então, antes que o levassem à força, subiu no pequeno morro próximo à sua casa, numa noite muito estrelada, e pediu que o levassem dali, que o conduzissem para sua verdadeira família, seja lá o que ela fosse.

No dia seguinte, o comentário geral era o desaparecimento de Manoel, e  o disco de fogo que havia cruzado os céus naquela noite, apavorando muita gente.


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