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A CHALEIRA - Suzana da Cunha Lima




A CHALEIRA
Suzana da Cunha Lima

A empregada da casa morava na favelinha perto do morro.  Mulher bem fornida de carnes, de riso fácil e constante bom humor. Sua conversa saborosa,  refletia sua maneira pitoresca de  viver a vida

Naquela tarde  quente,  o dia se arrastava para a noite, sem brisa e sem cores.  Sufocante como o coração da patroa  que  sentou-se à mesa da copa para tomar um cafezinho. Amargurada e desnorteada, contou para Maria que o  marido não a procurava mais e se mantinha distante e frio.  Os sinais de alerta pipocavam em sua mente.  O que fazer?

Apreciava os comentários de sua empregada, calcados sempre no bom senso e praticidade e que resolvia suas dificuldades de maneira simples, mas eficaz.

—O que eu posso fazer, Maria? Não quero me separar dele, eu ainda o amo.

Maria sentou-se à mesa também, com sua caneca de café ainda fumegante. E orientou-a baseada em sua própria experiência.

— Não há mulher do mundo, rica ou pobre, bonita ou feia que não tenha passado por esta situação, patroa. E segredou à patroa que, quando percebeu que o seu Pedrão estava se bandeando para o lado da periguete da padaria, chamou-o para uma conversinha.

Ao jantar, preparado e servido com a maior meiguice, contou-lhe uma historinha, assim como quem não quer nada.

— Sabe o Zezinho da serralharia, Pedrão?

O homem grunhiu qualquer coisa, mas ela não se deu por achada,  continuou a prosa.

— A mulher dela, a Bel, que trabalha na loja do Sr.Nestor, soube que ele andava pulando a cerca e o encostou na parede.

O Pedrão quieto, mastigando devagar, mas  já com as antenas ligadas na lenga-lenga da Maria.

— Claro que ele negou tudo, mas a Bel é paraibana meio macho, daquelas que não aguentam desaforo.  De noite, na hora de dormir, ela pegou uma chaleira com água fervente e despejou no ouvido dele.  Assim de leve, para assustar, ela não queria matar ele.

Pedrão deu um pulo: Como é isso, mulher? Que coisa mais louca!

— Pois é, veja só – respondeu Maria candidamente – Eu que tenho sempre esta chaleira aqui de noite para fazer o chá, nunca pensei nisso.

Tanto a patroa quanto Maria começaram a rir, diante do absurdo do caso.

— E você teria coragem para fazer o mesmo, Maria?

— Bom, coragem  eu não teria não, patroa, mas isso ele não precisa saber, não é?
Levantou-se e foi para o fogão ultimar o jantar.

— O que eu sei é que quando eu levanto de noite para qualquer coisa, ele já me pergunta para onde estou indo, de olho na chaleira. – disse rindo.

— Acho que a senhora deve dar um susto parecido no patrão também.


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