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Saída Estratégica do Armário - José Vicente jardim de Camargo


Saída Estratégica do Armário
José Vicente jardim de Camargo


No “happy-hour” das sextas-feiras com os amigos, discutia-se um pouco de tudo: as últimas do futebol; os problemas no trabalho; as noticias das redes sociais; as chances dos flertes na academia; as viagens de fim de semana; os filmes assistidos, e até a implicância das namoradas, noivas e esposas sobre suspeitas de possíveis casos de “cerca pulada”. Nesse item todos riam das desculpas, muitas esfarrapadas, que davam as companheiras na tentativa de afastar qualquer suspeita.

Ele, porém, vinha se aborrecendo cada vez mais, com a implicância crescente da sua esposa em lhe limitar a liberdade do ir e vir, do fazer e deixar de fazer, daqueles intermináveis “porquês” se refletindo na sua preocupação de ter sempre na ponta da língua uma explicação para os seus atos.

Para aquela noite já podia imaginar o questionário de perguntas que teria de responder ao chegar em casa: com quem e onde esteve, porque demorou tanto, do que tanto falaram, se tinha mulher no meio, etc...

A primeira coisa que lhe pedia era o celular e logo começava a vasculhar em todos os aplicativos.

Foi então que teve uma ideia!

Pediu ao amigo que lhe mandara a mensagem convidando-o para a noitada, que lhe emprestasse a gravata e um cartão de visita, e contou-lhe seu plano que bolara para a esposa ciumenta.

O amigo sorriu, concordou e lhe disse que se ela lhe telefonasse, colocaria mais lenha na fogueira...

Chegando em casa, propositadamente mais tarde que as noitadas anteriores, a esposa lhe aguardava roendo as unhas e tendo seu tique de torcer a língua quando zangada.

Antes que ela iniciasse a enxurrada de perguntas, entregou-lhe o celular, deixando cair ao chão, de propósito, a gravata e o cartão do amigo.

Ela rapidamente os agarra mirando com desconfiança.

Após escutar as mensagens gravadas, inclusive a do convite da noite, olha nos olhos do esposo, e pergunta secamente:

— Desde quando você deu para guardar gravata de homem?

— Desde que você iniciou suas suspeitas infundadas de ciúmes, completa ele - Aí estão as provas, não existe mulher alguma. Se quiser mais informações, ligue para ele...

— Não! Responde ela veementemente. Prefiro mil vezes ter ciúmes de mulheres...

— Então estamos de acordo! Diz ele - Nem ciúmes de homem nem de mulher! E que a santa paz volte a reinar nesta casa...

E, com um sorriso maroto, dirige-se ao bar para a última saideira...



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