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O apito - Oswaldo Romano


O APITO
Oswaldo Romano         
                                                     
        A Estação da Companhia Paulista de Estrada de Ferro situada no município de Mineiros, ficava alguns quilômetros distante da cidade. Os engenheiros ingleses previam breve aumento do povoado.

        O maquinista Everaldo era metódico. Não tolerava atraso. Sempre pontual, parava a composição duas vezes por dia nessa cidade. Indiretamente, era aplicado e com isso acertava a maioria dos relógios do povo com seu estridente apito. O sacristão que era seu primo tinha trabalhado como foguista na mesma composição. Era lembrado e se mantinha vivo na lembrança do maquinista, toda vez que chegava à cidade. O apito era seu cumprimento.

        Isso porque sabia que não só a população, mas o primo sacristão também acertava o relógio da torre da matriz.

        O apito era esperado e quando vinha, vinha chorado, um choro alegre.

        Um dia, no momento aguardado, faltou aquele som, ao longe só silêncio. Alertada, a atenção do povo, voltou-se na direção da estação. A pergunta era uma só:

        — Meu Deus! O que teria acontecido?

        Foi quando o automóvel do Seu Evaristo, o mais requisitado para ir à estação, graças ao suporte de malas na traseira,  foi imediatamente acionado e disputado. Outros a pé, a cavalo ou com o que tinham, corriam para a estação.
Na plataforma, a mesma que servia para passeio dos namorados, agora muita agitação e choro. O telegrafista informava que sim, e insistia no sim, a composição havia saído de Jaú no horário. Estava abastecida.  Lenha, agua, areia, tudo conferido. Partiu com o mangote volante checado.

        O maquinista Everardo, tido como o mais cauteloso, não foi feliz nesse dia. Ele não contava com o animal que furou a cerca e se pôs na frente da composição. Seus freios gemeram tão alto que foi ouvido no começo da cidade. O limpa-trilhos dilacerou o pobre animal que foi engolido pelas pesadas ferragens. Um vagão descarrilhou.

        Esse dia foi triste para Everardo.

Foi a primeira vez.


Na torre da matriz, o sacristão seu primo, esperava o apito que não veio. Ficou com o gorjear dos pombos que ali faziam seus ninhos.

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