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A viagem aérea inesquecível - Fernando Braga



A viagem aérea inesquecível
Fernando Braga

Uma das viagens que fizemos há trinta anos, tornou-se realmente inesquecível, não pela beleza dos lugares visitados.

Fomos conhecer Aruba e Curaçao, nas costas da Venezuela e na volta paramos em Manaus, onde ficamos por três dias. Às 11 horas da noite embarcamos rumo a São Paulo,  após uma hora de viagem ainda estávamos sobrevoando a nossa floresta amazônica. Neste momento, nos foi avisado pelo piloto e logo em seguida, pela aeromoça, que iríamos atravessar uma turbulência por uns vinte minutos, e que devíamos apertar os cintos e permanecermos sentados, evitando mesmo a ida ao banheiro. Ao nosso lado estava  um casal obeso, certamente alemães pelo aspecto físico e fala, cujo marido se apresentava com a cara cheia de bebida, muito alegre, falava alto, cantava músicas da Bavária,  como se estivesse aproveitando muito sua viagem pelo Brasil. Logo, os movimentos do avião se intensificaram. Chacoalhava muito,  percebia-se que estávamos entrando em uma tempestade forte, com clarões de raios, e a luz do avião apagando e acendendo.

O piloto anunciou também, com grande tranquilidade que naquele momento estávamos atravessando a floresta, ainda no estado do Amazonas Parecia gozação!! Mas, em seguida, o fato é que a turbulência atingiu um ponto máximo, o avião caindo subitamente uma grande altura, subindo em seguida e jogando muito dos lados. Se não estivéssemos amarrados no assento, certamente bateríamos a cabeça no teto. As portas de três, quatro bagageiros, próximos ao teto, se abriram e muitas maletas e pacotes se precipitaram ao chão, após baterem em muitos passageiros. A situação tornou-se muito complicada, todos se seguravam, gritavam e já imaginavam a queda do avião, amparado pelas grandes arvores de nossas matas, e talvez enfrentassem lá embaixo, cobras e lagartos, caso houvesse sobrevida.  

O casal de alemães estava muito agitado, se seguravam, gritavam, tocavam a campainha, O alemão havia vomitado  na roupa, estava todo molhado e sujo. Mas, ninguém se levantava para ajudar. Eles pediam socorro, e davam grandes gargalhadas ao mesmo tempo. Certamente de medo.  Eu e minha mulher, não entendíamos mais nada, nos grudávamos, nos beijávamos, como estivéssemos nos nossos últimos momentos. Não tínhamos escolha. Era torcer para não cair e rezar para Santa Bárbara, para que os raios cessassem. Passava toda vida em nossas mentes, nossos quatro filhos, órfãos, sem os pais. Meu Deus, o que será!
Para todos nós, a sensação era de que a turbulência estava durando duas horas. Mas, quando passou, realmente apenas quinze minutos havia decorrido. O sofrimento sempre dura muito mais que o real.

Minha mulher garantiu que nunca mais andaria de avião, mas após um ano lá estávamos novamente voando.

Turbulência é turbulência, e nos enfrentamos. Nóis é macho!


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