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SILÊNCIO - Mario Augusto Machado Pinto.



SILÊNCIO
Mario Augusto Machado Pinto.

A cidade aparentava marasmo. As janelas fechadas, as portas cerradas isolavam a todos. As ruas desertas há muito esquecidas, suspiravam. Mas, o que mais aturdia era o avassalador silencio que dominava tudo.

Esse silêncio me dói nos ouvidos e como sou órfão de pai e mãe em otimismo,  tudo me leva a imaginar que podem acontecer coisas desagradáveis. Bota desagradável nisso!
Qual o determinante desse estado de coisas? Por quê?

Na verdade não sei não. Mas que vai, vai!
Vai o quê?
Acontecer coisa ruim. Veja só: como é que vamos...
Para por aí. Sou um, só um. Apaga o vamos e procura resolver: como é que vou chegar ao terminal rodoviário? A pé não dá.
È longe pra xuxú.
Não é longe pra burro?
Prefiro pra xuxú!
Nunca sei se xuxú se escreve com xis ou com ch. Problema importante!
É que estou com fome. A mente a está desordenada; ainda não tomei o café da manhã. Faz falta.
Há o café da tarde, da noite também?
Pode haver o chá das cinco ou aquele antes de dormir.
Ora, deixa de ficar pensando essas bobagens, anda mais depressa, vira à esquerda na esquina que tem ponto de taxi.
Um, um. Dois, dois. Três, três. Quatro, quatro.
Para com isso!!!
É pra saber quanto mede a distância até o ponto.
Ponto de taxi.
É, mas é um ponto.
O ponto faz terminar a busca do taxi.
Um, dois, feijão com arroiz.
Arroz!
Tá bom, arroz.
Três, quatro, feijão no prato. Cinco, seis, no fim do meis.
Mez, com esse ou com zê?!
Não enche!
Sete, oito, comer biscoito. Nove, deiz, comê pastéis! Não sei se continua. Viu?
Não tem taxi.
E agora?
Tem outro ponto na praça.
Eu conheci uma espanhola natural da Catalunha, queria qu´eu tocasse castanholas e pegasse um touro à unha... Caramba, caracoles, não me amoles.
Não vai pra lugar nenhum!
Como não?
E pra praça que tem taxi? Vamos, sim.
Não tem jeito mesmo! Caraca, como você enche!!!

Olha, olha aquele pitéuzinho. Cabelo vermelho, tal e coisa e bundinha bonita. Diz o cumprimento, cara! Anda!
Bom dia! Tamos, quer dizer, tô procurando taxi.  A mocinha está esperando? Digo, taxi? Parece que todo mundo ainda tá dormindo nesta redondeza. Nas outras também?
Então vai demorar.
Como vai sê?
Queremos, digo (falo digo por que acho sofisticado), quero ir até o terminal rodoviário da Barra Funda, mas a pé e na incerteza fica longe demais. Concorda?
Craro. Moço, eu só quero comodidade, mas se não tiver, tudo bem; não vou me atrapalhar. Vou de esqueite. Tenho dois daqueles grandes na mochila, prá campeonato.
É mesmo. Taí uma solução...
Como assim?
Ué, vamos os dois juntos num só. Me seguro na sua cintura e você guia.
Eta moda maluca! Mas, topo; vamo logo.

Agora posso cantar...
Não sei...
Sabe sim... Segura nela e canta “O que que a baiana tem”. Não esquece e meche com as cadera pra lá e pra cá...
E lá fomos nós dois na ladeira abaixo na Avenida Angélica.
O que houve que o caminho está livre? Não interessa. Depois aquele moço da TV explica.


-Eta trem bom, gostoso de andá...

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