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UM MALANDRO CHAMADO ARTHUR - Carlos Cedano

UM MALANDRO CHAMADO ARTHUR
Carlos Cedano

Arthur chegou ao Rio de Janeiro sem muita grana e foi morar com seu primo Roberto que lhe alugou uma vaga no seu minúsculo quarto. Instalou-se e logo teve que pensar como faria para sobreviver. O dinheiro que tinha era o produto da venda de um pequeno sitio que teve que ser dividido com outros parentes, e não duraria muito tempo.

Após uma semana procurando emprego, contentou-se com um cargo de aprendiz de sonoplasta numa estação de radio e começaria a trabalhar no dia seguinte. Porém, Arthur precisaria mais dinheiro para viver.

O passo seguinte foi matricular-se numa faculdade de periferia que a rigor, pouco frequentou, mas lhe dava status. Poucas semanas depois deu o terceiro passo e começou a namorar uma morena bonita de condição modesta. Mas, o problema do dinheiro curto ainda continuava a atormentá-lo, nem sequer podia levar a moça para tomar um sorvete.
Após três messes de namoro Arthur pediu à moça para conhecer seus pais, queria falar com eles. A namorada, Renata, falou com os pais que imediatamente aceitaram e o convidaram para jantar. Todo mundo feliz em casa e cheios de expectativas. Imaginem um estudante de Direito! - Comentou a mãe.
Após o jantar Arthur falou com os pais, seu José e Dona Maria, e disse-lhes:
— Minhas intenções para com sua filha são sérias, inclusive já estou comprando parte dos móveis de nossa futura casa. Entretanto o apartamento de meu primo é tão pequeno que não poderei guarda-los lá, por isso quero solicitar-lhes que os recebam e os guardem até que me case com Renata.  Poderiam fazer esse favor pra mim?
— Evidentemente que sim, responderam ao mesmo tempo os pais.
Uma semana depois estavam chegando cama de casal, armário duplo, dois criados mudos e uma penteadeira que os pais guardaram com todo cuidado. Arthur tinha investido todo o dinheiro que trouxera. E foi assim que ele “ganhou” direitos no lar. Jantava aí todos os dias, sábados e domingos era almoço e jantar e até pernoite. Essa situação durou mais o menos dois anos.
Qualquer insinuação de casamento era respondida por Arthur que somente após sua formatura, que estava indo muito bem nos estudos e que inclusive tinha sido sondado por um conhecido escritório de advocacia, para entrar como advogado Jr. após sua formatura. Cessaram as insinuações por um tempo, até que Arthur tinha percebido que as refeições já não eram tão boas como antes. Com esse sinal, Arthur começou namorar outra moça.
Terminou com Renata e pediu a seu primo Roberto retirar os móveis da casa da ex. Como os móveis pareciam estar em bom estado os despachou imediatamente para casa da Vera, a nova namorada.

Ele foi tratado com os mesmos mimos do namoro anterior e tudo a custo zero também.  Arthur conheceu o tio Rubens irmão de sua sogra, que fazia visitas periódicas pra ela, e o achou muito simpático.
Quase dois anos depois, o noivo percebeu que já estava na hora de fazer uma nova e última “troca” de namorada. Arthur repetiu o ritual, acabou o namoro, pediu para seu primo retirar os móveis e leva-los para casa da nova namorada.
Algo imprevisto aconteceu:

O primo Roberto ligou para Arthur no seu emprego e pediu-lhe para ir com urgência para a casa da Vera, o tio Rubens queria falar com ele antes de entregar os móveis, precisava que ele assinasse um termo de recebimento. Arthur estranhou, mas lá foi ele.

O tio Rubens, que era fiscal da justiça, mostrou o estado dos moveis quase destruídos pela má qualidade da madeira e pelo ataque de cupins. Porém, a surpresa maior foi a apresentação de uma conta minuciosa pelo fornecimento de refeições durante trinta meses além da realização de serviços domésticos, lavar e passar roupa por exemplo. Caso não quisesse pagar, seria processado por falsidade ideológica e estelionato. O processo também poderia incluir os prejuízos causados à família de sua primeira vítima. A conta apresentada era salgada.

Algo previsto aconteceu:


Arthur nunca se formou, casou-se com a Vera, já têm meia dúzia de filhos e moram com a sogra.

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