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O golpe manjado - Fernando Braga


O golpe manjado
Fernando Braga

Heber e Caetano eram dois amigos inseparáveis, estudavam na mesma faculdade, tinham o mesmo gênio, se divertiam muito quando juntos e gostavam de fazer ¨pegadinhas¨, como por exemplo dar o cano em restaurantes. Escolhiam bons restaurantes, pediam os melhores pratos, os mais caros e no final da refeição, quando ainda havia um pouco de comida abriam uma caixa de fósforo donde tiravam uma pequena barata e a colocavam no meio da comida restante. Chamavam o garçom, mostravam o acontecido, pediam para falar com o gerente e quando este chegava, bravos, diziam que não esperavam isto em um restaurante de classe como aquele. O gerente ao ver o inseto, pedia para que falassem baixo e sugeria que recebessem um novo prato. Eles se negavam, pois já estavam satisfeitos e saiam desaforadamente, sem qualquer impedimento, sem pagar a conta, e ninguém os impedia. Precisava ter vergonha na cara, o que não era o caso destes dois amigos. Outras vezes, ao terminar a refeição, saia um de cada vez, por uma das portas laterais e uma vez na rua, saiam em disparada.

Eis que, dias após, procuraram outro restaurante, também de categoria, que ficava a uns dois quarteirões daquele que haviam tungado, sentaram-se à mesa, pediram um aperitivo, couvert e em seguida o prato principal. Um dos garçons, que servia outra mesa mais distante, reconheceu os dois, pois trabalhava nos dois restaurantes em dias diferentes, avisou o gerente e todos empregados que, pagavam para ver se a mesma cena  iria se repetir. Os dois comeram fartamente e no final, abriram a caixa de fósforo e novamente colocaram a baratinha no meio da comida restante. Chamaram o garçom, mostraram toda a indignação do achado e pediram para falar com o gerente. Este antes que aproximar da mesa, pediu que outros garçons a rodeassem. Nesta altura eles sentiram que a casa havia caído! O gerente pediu que eles o acompanhassem e mandou um dos garçons chamar um policial, que sempre fazia a ronda naquela rua, cheia de restaurantes. O guarda veio, e ao revistar Heber, achou a caixinha de fósforos, contendo ainda duas outras baratas. Antes de serem levados para a delegacia, tiveram que assinar uma promissória no valor da conta, uma vez que estavam duros. Na delegacia, o delegado deu-lhes uma grande advertência, que se pegos novamente dando golpes, seriam presos, pois seus nomes ficaram fichados. O dois eram bem malandros! Pararam por certo tempo, mas sempre que mudavam de bairro ou quando viajavam para outras cidades, tinham a coragem de repetir a façanha, até serem pegos novamente, o que não havia acontecido até o momento.


Eu os conheci bem!

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