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UM DESTINO DE CEM AN0S - Mario Augusto Machado Pinto




UM DESTINO DE CEM AN0S
Mario Augusto Machado Pinto

Corria desengonçadamente pela calçada colorida da avenida da praia. Acotovelava transeuntes enquanto avançava para a areia onde a área mais aberta garantir-lhe-ia mais velocidade. Os passos esticados com as longas e magrelas pernas dentro da bermuda azul de tactel,  levavam-no para casa na esquina da Avenida Ferdinando com a Rua Visconde de Tatuí. A  respiração ofegante podia ser ouvida de longe, e os olhos nem viam por anda passava. Tinha a cabeça aturdida e precisa alcançar logo seu destino. Ao atravessar a avenida quase foi pego por uma motocicleta que ia ao seu máximo. Mas, com o endereço já avistado, e a garantia de que logo estaria com sua mãe, via-se impossibilitado de saber o que acontecia ao seu redor. Esbaforido o menino empurrou o portão de chapas de madeiras mal pintadas, e a galope avançou para a varanda. Abriu a porta antiga de duas folhas com um único empurrão, e entrou aos gritos:
— Manhêêê! Mãããe!
Não obtendo resposta imediata, ainda em alvoraçada pressa foi percorrendo os cômodos do andar de baixo do centenário sobrado, enquanto insistia em chamá-la a todo pulmão:
—Mããe! Mãããe, cadê você?
Sua derradeira tentativa seria o andar superior. Suava frio e respirava com dificuldade quando, pulando os degraus de madeira de dois em dois, chegou ao piso de assoalho falho do corredor dos quartos:
— Mãããe, onde você está? Manhêêê!

Os sons dos seus chamados reverberavam pelas paredes e nas pranchas de madeira das velhas janelas.

Abriu de par em par as portas dos antigos armários de cada quarto olhando sua imagem refletida nos espelhos de cada uma delas. 

Passou a se observar ao gritar chamando pela mãe. Gritava e se olhava.

Ao eco dos seus chamados escutava a resposta dos miados dos gatos.


Continuou gritando e se olhando.


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