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LAMENTÁVEL, A ESTRADA DA FAZENDA - Oswaldo Romano


LAMENTÁVEL, A ESTRADA DA FAZENDA

Oswaldo Romano         
                                                         

         Quando meu carro quebrou na volta da fazenda, anoitecia. Família a bordo, crianças choravam, deu pânico. Pânico que atingiu em cheio as crianças.  Consegui, depois de hora, trazer o carro para a oficina de São Paulo.
         Veja você, antes da quebra fez aquele barulho que assustou a todos: Plaq, plaq, plaq. Segurei firme no volante, trepidava, prirr, prirr, prirr, forçava para escapar-me.
         Justifica-se: A estrada, é horrível, bota medo. Os buracos pareciam feitos com trados, tinham cantos vivos, os pneus eram judiados por aqueles gonetes.
         Eu até previa, diante de tantos solavancos que iria quebrar alguma coisa, nos deixar na mão. Pedi proteção a São Cristovão. Foi tarde.  Não deu outra! Aconteceu!
         Acionado o seguro, chegou a plataforma. Na sua cabine, nos amontoamos indo até a oficina, onde tomamos um taxi. Um não, dois. Segundo o mecânico, teria quebrado a suspensão e possivelmente danificado outras partes.
         Depois de quatro dias, foi-me devolvido o carro. Estava lavadinho e  cheiroso. Embora tenha passado por uma situação constrangedora, vendo-me numa estrada feita há muito tempo para carroças, ainda me considerava feliz diante do resultado final.
         — Pai,- Disse meu filho do meio.
         — Fale filho.
         — Acontecesse nos Estados Unidos, iriam buscar-nos de helicóptero.
         — É verdade filho, só que lá não tem esse tipo de estrada.
         — Matou pai...
         Depois de quatro dias, meu carro foi entregue de manhã. Muito bom. Teria de sair à tarde para uma importante reunião, devidamente trajado, paletó, meias, gravata.
 Minha casa fica no topo da Ladeira Morro Alto.
         Estando tudo pronto, banho, barba, almoço, carro limpo, lá vou eu!
         — Amigo!
         Na descida da ladeira acionei o freio. Um susto! O pedal bateu no assoalho, e nada! Fiquei branco! Não encontrei pressão... Bombei, bombei, bombei, nada! Teria chegado minha hora? Foi uma coisa jamais imaginada! O mecânico era de confiança. Mas, um safado. Perdão não era hora de xingar e sim rezar. Vi a morte! Chamei por Deus. Ele me clareou.
         — Cambio, o cambio... Rápido! Engate o câmbio na ordem! Terceira, segunda, primeira, encoste, raspe a guia.
         Esforçava-me para manter o carro rente a guia. Podia ouvir os gemidos estridentes do aço raspando no meio fio. Meu coração disparou, queria saltar do peito. Temia pelo pior. Em seguida estremeci com o estouro do pneu dianteiro que logo desestabilizou mais ainda o veículo jogando-me mais forte contra a sarjeta. Até que o carro finalmente parou. Minhas mãos tremiam segurando firme o volante, tenso. Ufa, respirei fundo.
 Desci, tremendo sentei-me na sarjeta, esqueci a minha roupa limpa. Olhei para o que sobrou da roda, fechando as mãos agradeci, bendita  roda, mandei beijos. Chamei o mecânico.
         Voltei para casa, entrei, - a mulher...
                   — O que aconteceu, o que foi?
         — Lembra amor, quanto você resmungou, acabou comigo,  por ter-lhe dado um carro mecânico? 
         — Sim, e daí?
         — Ele acaba de salvar minha vida.


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