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FLAMBOYANT - Oswaldo Romano



FLAMBOYANT
Oswaldo Romano                                      

        Na primavera, num domingo ensolarado, resolvi deixar o lar e pedalar.

        Levado pelas ruas arborizadas do nosso bairro, onde prevalecem os pés de Sibipirunas, que generosamente atapetam nossas ruas de pétalas amarelas. Onde o Pau Ferro com seu descascado tronco quer mostrar seu resistente cerne. Onde as Araucárias ostentam o orgulho de ter dado o nome ao nosso bairro. Onde Ipês amarelos ou roxos, quando floridos desafiam nossa admiração, e ainda, onde falando em arvores assistimos a floração do inebriante Manacá que nos acolhe com pés de todas as alturas e cores.

        São catedrais que nos abrigam e nos protegem quando sentimos o Rei Sol nos queimando. São as Azaleias plantadas em imensa quantidade. Tantas que foram eleitas a flor símbolo de São Paulo.

        Tenho orgulho, foi meu sonho realizado:  “Plantar uma arvore, ter um filho, escrever um livro”.

        Veja que o pedalar nos dá a oportunidade de presenciar preciosidades distantes da cômoda poltrona da sala. O pedalar me levou, mas pedindo um descanso  parei, quando ouvi movimentado e alegre barulho de vozes.

        Era um clube, quis saber mais.

         Ali pulsa num fascinante agito, o Clube Alto dos Pinheiros entre suas belíssimas malváceas. Nem sempre notada, sua arborização escapa aos olhos dos que vejo chegarem apressados para garantir a vaga do vôlei, pelada ou tantos outros esportes.

         Meu objetivo era manter a prática do tênis, próximo de casa, quando em São Paulo. O maior agito fazíamos no litoral. Esse esporte de há muito foi minha vida. Iniciei no Jaraguá Clube Campestre, passei pela Hípica, locais onde deixei muitos amigos. Amigos que não vi aqui. Desceu em mim, um fato estranho, uma tristeza.

        Questionei: Por que? Por que vim aqui?  Senti nos participantes a nobreza do nobre esporte, mas passei ignorado. Aqui eu era um ilustre desconhecido. Carregando a bolsa com a raquete, sentei-me na sombra do belíssimo pé de Flamboyant, que eu havia antes passado e admirado.

        Fiquei ali melancólico, enquanto rodava pela minha cabeça um filme que eu não queria ver. Estava só, pensando bem, eu não precisava daquilo.

        Senti-me menosprezado. Afinal eu era tenista, tinha o melhor equipamento, conhecia meu jogo. Entrei aqui para jogar.

A vida daquele imponente Flamboyant que cedia graciosamente sua sombra elucidou valores. Inerte, também sozinho, mantinha um brilho invejável em suas folhas, esnobava suas flores e mostrava no seu agitar, a alegria de estar bem.

        Fiquei estimulado, senti paz. Reconsiderando minha própria atitude, voltei junto as quadras.

        Foi quando confirmei ter nobres nesse esporte. Um deles, que eu referencio até hoje, convidou-me para jogar. Retribui acompanhando o seu jogo, foi meu primeiro amigo. Outros fizeram com que este circulo de amizades tomasse a proporção que ganho hoje neste espaço. Ajudado pela bagagem do meu passado, e dando crédito ao fabuloso Flamboyant o responsável por aliviar minha tensão, eu cheguei até aqui.

        Graças a ele hoje posso narrar parte da minha presença no AP.
       


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