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Os dois Albertos - Suzana da Cunha Lima




Os dois Albertos
Suzana da Cunha Lima

Era um visionário, desde menino. Ainda bem que tinha pais de cabeça aberta, inteligentes, que até favoreciam as incursões do filho no mundo da tecnologia. Gostava de desarmar relógios e qualquer engenhoca que passasse por suas mãos,  simplesmente para ver como funcionavam.  Nem sempre sabia montá-los outra vez, mas não importava. Saciava sua curiosidade.

Porém ele ia mal nos seus estudos na escola formal. Achava as matérias enfadonhas, muitas vezes sem sentido. E sem uso prático imediato.  Mas nesse quesito, seus pais eram bem severos.  Gostasse ou não, tinha que completar seus estudos.

E assim foi, até que, por força do trabalho do pai, que era diplomata, a família mudou-se para Paris.  Foi uma promoção e tanto! Alberto agora, ia conhecer uma cidade cosmopolita e muito mais avançada em ideias que seu acanhado Rio de Janeiro.

Resolveu estudar Física  para melhor entender o funcionamento do mundo. Dizia que as leis da Física eram eternas e perfeitas. A arte da fotografia, iniciada em 1822 estava em plena  evolução e por ela Alberto se apaixonou. Queria registrar grandes fatos e situações que poderiam, um dia, se tornar históricos e torná-lo famoso.

Como morava em Paris, teve o privilégio de  conhecer as invenções de Santos Dumont no campo aeronáutico.  Foi um deslumbramento.  Era adolescente ainda quando resolveu se  empregar gratuitamente na sua oficina para conhecer melhor os segredos que podiam fazer o homem se equiparar aos pássaros e registrar tudo em sua câmera.. Neste tempo, Santos Dumont tentava aperfeiçoar sua tecnologia para dirigir o mais leve do que o ar, ou seja, balões e dirigíveis, e logo, a seguir dedicou-se a fabricar um artefato mais pesado do que o ar e que pudesse voar.

Alberto estava ali, atento  a tudo, empenhado em ser o melhor fotógrafo daquela cidade. E como foi uma época repleta de grandes novidades e Paris era, então,a capital do mundo, ele conseguiu registrar os grandes feitos daquela época. E, particularmente,  todas as etapas das invenções de Santos Dumont. Seus desastres, seus insucessos e sua extraordinária persistência.

Como Dumont não desanimava, tampouco o fazia Alberto.  E foi recompensado por seu esforço, pois estava lá quando Santos Dumont voou, pela primeira vez na história mundial, com o seu 14 – BIS, no campo de Bagatelle, França. Foi no dia 12 de novembro de 1906.. O seu mais pesado do que o ar subiu seis metros de altura e voou 220 metros.

Uma façanha única!  E Alberto estava lá. Dia inesquecível para a humanidade e para aquele outrora garoto curioso que acabou sendo testemunha de um feito notável do engenho humano.


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