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O Grito do Ipiranga - José Vicente Jardim de Camargo



O Grito do Ipiranga
José Vicente Jardim de Camargo



Valentina e Germano, ambos de 8 anos e alunos da 2ª série, têm uma queda especial para as aulas de história do Brasil, principalmente sobre a Proclamação da Independência.

Na visita da escola ao museu do Ipiranga, em frente do famoso quadro de Pedro Américo retratando o fato histórico, ouvem atentamente as explicações da professora:

— Nas margens do Rio Ipiranga, sob um céu azul, Dom Pedro, porte esbelto, olhar altivo, montado em seu corcel branco, com uniforme bordado a ouro, elmo de brancas plumas, botas altas reluzentes, cercado por sua comitiva de altos oficiais e funcionários do reino, desembainha sua espada e num grito varonil proclama – “Independência ou Morte!”

Valentina e Germano captam na imaginação o eco deste grito e a visão da cena majestosa e sentem um arrepio de orgulho por tão bravo ato de rebeldia do Príncipe e de seu amor à terra que o acolheu.

Neste instante, um segundo grupo de pessoas, de aparência intelectualizada, entra na sala de exposição e comenta:

— Neste quadro temos um bom exemplo entre ficção e realidade, a influência da mídia sobre a mente humana, um verdadeiro marketing histórico- nacionalista:

—“Dom Pedro e comitiva acabavam de chegar de Santos e, dado ao longo trajeto e as condições ruins do caminho, montavam em mulas, exaustos, talvez famintos e sujos, e o príncipe estava com um desarranjo de estomago que o obrigava a parar frequentemente para se aliviar. Numa dessas ocasiões, nas margens do Rio Ipiranga, que estava mais para um córrego, recebeu o carteiro real com a carta de se pai obrigando-o a retornar a Portugal. E, com o coração batendo mais forte para o lado de seus amores e aventuras ocultas, do que com a terra bem amada, deu o grito histórico...”

Ao ouvir tais comentários, Germano, com cara de contrariado, comenta com Valentina:

— Que mentirosos!Acham que sabem mais do que os livros da escola e a professora.


—  Coitado do nosso Príncipe, pena que naquele tempo não existia celular com câmera fotográfica, para esfregar a foto na cara deles,     complementa raivosa Valentina...


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