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O unhudo -Oswaldo Romano



O UNHUDO
OSWALDO ROMANO
Esta é uma sinopse dos acontecimentos vividos pelas pessoas que se propuseram a desvendar a história do Unhudo.
Lição inopinada de uma misteriosa mata.

Ao findar o dia, um carinhoso olhar para o neto renova o pedido que nunca falha: — Conta uma história vô?

A origem desta, contada na cidade de Mineiros do Tietê, é narrada em várias versões pela população, ganhando até algum crédito na versão Pedra Branca- Itamoroti de minha autoria. Aqui, sinais da história.

Para tirar a dúvida alguns casais, munidos de armas e coragem, planejaram ir até sua origem, apurar a verdade.

É uma antiga história do Unhudo que vive e reina na mata sobre a Pedra Branca, uma grande montanha que tem sua base lá no baixão da serra chamada Rebenta Rabicho. A descrição dessa figura, homem ou assombração, um ser horroroso que está sempre pronto a atacar quem atrever-se a subir o local, agredir seu meio ambiente, ou apanhar suas frutas, dizem grandes, suculentas e abundantes naquela selva primitiva permeada de frondosas jabuticabeiras.

Desafiando a lenda, este grupo resolveu primeiro debater o assunto com autoridades, e depois aproveitaria um prolongado fim de semana, divertir-se-ia e desvendaria de vez tão antigo e falado mistério.

Até os colonos da região o respeitavam. Um deles, justamente o que mais comentava a excursão, de nome Geraldo, quis dissuadi-los da aventura. Soube, numa roda de violeiros, que mateiros de Santa Maria da Serra tentaram desvendar e conhecer o Unhudo, isto na década de 50, e um deles não teria voltado. Fizeram uma moda de viola. Geraldo não sabia toda, mas falava qualquer coisa assim: — Prá aquela pedra elevada, / Foram quatro vortô treis. / Falam do Unhudo e peitadas, / E das fruteras carregadas. / Por isso eu digo pro cêis, / Tem lá uma alma marvada...

Diziam até que a própria polícia havia abafado o ocorrido e nem inquérito abriram. Outros mais críticos falavam que ela abandonou a procura por falta de armas e equipamentos. Chegaram mesmo a dizer que ela era interessada naquilo!
— Interessada por quê? —Logo perguntavam.

— Porque lá soltavam o preso sem recuperação. Era dado como fugitivo e com seu sumiço não se comprometiam.

        Quanta história!

Subiram, fizeram o primeiro acampamento e depois deste em todos passaram noites assustadoras.

Pelos acontecimentos, era o espírito do Unhudo que os acompanhava.

No final da aventura descendo, no pé da montanha, o grupo se questionou:

— Afinal quem é o Unhudo para você, Vera?— A Mariana foi quem iniciou a pesquisa.

— Eu acho que é um vento, como aquele que causou aquela tropelia dos animais. Seria uma enorme bolsa cheia de ar com pressão, transparente e disforme, com ação e força para movimentar-se pela mata e impor suas ordens. O Unhudo é aquele vento não tenho dúvida. Sua força destrói inimigos.

— E para você, Aracy, quem é o Unhudo?

— A Vera está enganada. Tenho quase certeza de que está em forma de animal. Vi nos olhos daquele lagarto uma expressão humana como se já nos conhecêssemos de há muito. Ele não estava preocupado com nada mais, a não ser querer falar comigo, expor algo que o prendia ali há muito tempo. Era ele sim, vi suas enormes unhas. O lagarto é o Unhudo.

— Pita, agora você. Quem é o Unhudo?

— Por eliminação concluí que é um bruxo.

— Bruxo!

— É, naquela noite em que as vassouras deram um passeio em torno da nossa tenda, as folhas foram varridas e levadas provavelmente para seu abrigo.
— Espere, Pita, e pra que?

— Vocês já ouviram falar em cultos com rituais latentes, geralmente pregados sobre montanhas? São cultos que se realizam de várias formas chegando à exploração dos fogos-fátuos para se sustentarem.

— Você está fantasioso Pita. Isso é iniciação, esoterismo. Como você explica o fato de com tanta mata ele colher essas folhas nesse dia, e em volta da nossa tenda, hem?— Interveio Aracy.

— Ele não tinha outra escolha. Era 31 de outubro, o dia da farra dos bruxos. Só lembrei depois. E nós procuramos a melhor clareira para a montagem da barraca. Foi a melhor porque justamente é ali que ele varre e colhe seu material. Estava preparada. Montamos a barraca bem embaixo da sua árvore consagrada! Para mim o Unhudo é o bruxo com sua vassoura ruidosa e voadora!

— Tá bom Pita, agora...

— E você Carlos, o que diz?

— Estão todos enganados. Quando fui picado pela cobra e tomei aquela injeção com analgésico tive o sonho mais incrível e real da minha vida. Foi assim...
— Nossa, Carlos! Vai continue ...continue.

— Todos os bichos aos gritos e prolongados silvos, desciam correndo e atropelando-se postavam-se ao redor daquele cone giratório de pó. Ali estava o Unhudo.

— Tião, quem é o Unhudo?

— Nossos amigos estão envolvidos e confusos. Eu estive mais próximo dele. Eu vi, subi e colhi jabuticabas. Senti a morte de perto quando escorreguei e cai no precipício. Tivesse ocorrido minha morte naquele abismo, hoje eu seria mais um entre eles. Almas gente, Almas!


— Ok, vocês provaram que ele existe, se transforma, e permanentemente vigia sua sagrada montanha.

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