Falsos
delírios
Mario Luiz Tibiriçá Ramos
A falsidade constante
nos delírios, certamente provém do próprio conteúdo do delírio, sempre criando
expectativas e esperanças que jamais se cristalizam, por isso delírios.
Como é lindo e agradável sonhar, imaginar coisas,
criar situações que justificam sempre, esperas demoradas e maravilhosas que nunca se realizam. O imaginário do homem
é infinito, e as propostas, embora quase
sempre descabidas, determinam euforias e esperanças que um dia podem ou não, acontecer.
O etéreo dos desvarios de Raquel, que regularmente
vinha a sua cabeça a levava à certeza de que se tornaria realidade,
também pelas suas expectativas
religiosas, pois além dos delírios havia
também a fé, e sabemos que a fé move montanhas.
Avançada nos anos e
um tanto doente, Raquel não abdicava da certeza de que haveria de partir, rumo
às terras maravilhosas do Senhor de alma e
o corpo, que para outros restariam na terra. Todos os dias na sua inabalável
fé, lá estava ela, junto a janela que
formava um desenho com o formato de uma
cruz, aguardando a realização de seu
falso, para ela verdadeiro delírio.
Raquel participava há anos de reuniões de senhoras
em festas de caridade, onde tricotavam
peças de roupas para aquecimento da pobreza no inverno. Suas
companheiras debicavam de seu delírio que jamais aconteceria. O deboche e as
risadas eram chicotadas no animo de
Raquel que todavia respondia apenas com
um sorriso.
Até que um dia, na
festa de São Pedro, junina com fogos, fogueiras, bebidas, danças e risadas, Raquel não
apareceu.....Estará doente ! Vamos
visita-la diziam as amigas.
No dia seguinte
dirigiram-se á casa de Raquel, e lá chegando, logo constataram que os vidros da
grande janela que dava para a praça estavam quebrados. Onde está Raquel? - perguntaram.
A moça que tomava
conta da casa e fazia companhia para Raquel
explicara que havia acontecido
alguma coisa, pois desde que chegara
naquele dia ainda na vira Raquel.
Esperava que estivesse com as Senhoras disse.
A surpresa dias após,
tomou conta da cidade, D. Raquel misteriosamente havia desaparecido.
Não podiam
compreender que o delírio de Raquel tornara-se realidade,
viajara ela para o reino dos céus de alma e corpo, seu delírio tornara-se verdadeiro.
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