O AMOR FALA MAIS ALTO
Oswaldo Romano
Aconteceu numa excursão na Itália. Foram
pessoas de várias cidades do Brasil. Deviam visitar a Costa Amalfitana, cidade
de Amalfi e outras do contorno. Uma paixão pela beleza, pelas igrejas como a
Duomo di Sant’Andrea do século nove, museus, grutas, um paraíso do mar Tirreno.
Mar azul, vistas espetaculares. Ao redor vilarejos incríveis, muito luxo,
glamour.
O grupo era formado por vinte e
cinco pessoas. Pedro acompanhava a mãe viúva que apresentava sinais de perda da
memória. Eram de São Paulo. Outra jovem entre poucas estava Andréa, da cidade
de Bauru.
O encontro do primeiro olhar,
esquivado mas repetido, aconteceu justamente na visita ao Duomo. Sinalizou o
desejo de se conhecerem. Foi aquele olhar de quem não quer, mas quer no mínimo
atender seu desejo de aproximação. Um olhar investigativo, louco para descobrir
quem é quem. O pensamento dele voava o dela era pura imaginação. Nessa hora tudo
que comentaram, foi a ligação dela com o nome da catedral.
Viajando juntos, viajava também o
medo de se perguntarem, o natural medo da desilusão. Esse procedimento ficou
muito estranho, justificado porque ambos tinham seus segredos. Cada dia, cada
passeio, cada vez mais juntos. Mais juntos ficaram também viajando sentados no
mesmo banco. O inevitável. Deram-se as mãos.
Pedro quis isolar mentalmente o
delicado perfume que ela usava, julgando ser ele o motivo de tanta atração.
Não, não era. Estava realmente fascinado.
Andréa se não cruzasse os dedos com
Pedro, não sabia onde deixar as mãos. Quando o ônibus parou na Fonte dos Amores, foi
para Andréa o melhor momento. Ela o queria... Mas se conteve. Pedro
vendo o cair das aguas disse:
— Queria ser aquela estatua.
— Porquê? Andréa calou-se, nada mais
disse.
—
Porque você seria as águas rolando sobre meu corpo.
— Nossa que lindo! Que gostoso!
Assim, mais dois, três
dias, chegou o fim da excursão. Apareceram as primeiras lágrimas. Ao chegar no
Aeroporto de Guarulhos o Pedro disse:
— Está acabando. Precisamos nos
entender.
— Fale você primeiro.
— Eu namoro uma moça também de São
Paulo, há quatro anos. O tempo mostrou ser muito exigente. Já imagino sua
chatice no futuro.
— Foi bom você falar com
sinceridade. Eu também estou perto do noivado em Bauru, mas não estou
convencida, motivo da minha viagem. É uma pessoa muito folgada, irresponsável.
Ouve um prolongado
silêncio. Reiniciando, conjeturaram em suspense, um forte abraço mostrava possível
despedida, quando Pedro virando-se para a mãe disse:
— Mãe... Mãe. Quer vir conosco para Boituva?
— Filho... Boituva é lugar perigoso.
Vejo nos jornais. Em Capadócia cai balão, em Boituva são os paraquedistas que
desabam. Que pretende fazer em Boituva?
— Exatamente o que pretendo fazer, caiu
de paraquedas, mãe. Foi a solução, a
felicidade, mãe!
— A senhora quer participar de um casamento!
— Ora se quero! Sua mãe é esquecida,
mas vê o que é justo. Que ótimo filho!
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