UMA ESCALA DO NAVIO “MAR ÚGGI” NO PORTO DE
BELÉM DO PARA
Oswaldo
Romano
O
navio “MAR ÚGGI” vinha do porto de Bolonha para a América do Sul, acontecendo sua
primeira escala em Belém do Pará.
Desenrolava
a bordo, parte de um filme documentário que o cineasta Barreto produzia para a
Rede Piva.
Cinquenta
artistas participavam do elenco. Entre os passageiros havia muitos jogadores de
baralho, mas apenas quatro se representavam profissionais do pôquer.
Todos
tinham conhecimento das habilidades artísticas do grupo. Todavia, jogo ganha-se
jogado. O cacife era alto. Inicial de 2 mil dólares cada. Na primeira noite, já
era madrugada quando terminou o tempo da hora marcada, e ao fechar a caixa, o
balanço era de não assustar ninguém. O
objetivo de cada um era tentar aplicar o Golpe de Mestre.
Na
escala do navio em Belém do Pará,
embarca o Láu, exímio jogador de pôquer, já conhecedor desta rota e a fazia
regularmente com vistas ao jogo. Há tempos esse era seu rendimento, pois
confiava na sua habilidade. Desconhecia que desta vez faziam um filme a bordo.
Nesse
porto o navio ficaria dois dias. Foi a primeira parada dessa viagem de lazer
para os outros passageiros. No trajeto já vencido, a maior parte foi filmada no
convés, tendo o mar como fundo, um esplendido cenário. Atracou às oito horas no
Pará. Depois do desjejum, Lau já embarcado, foi para o convés tentando
reconhecer qual era o grupo dos jogadores de pôquer. Vestia uma camisa Polo
cujas mangas estampavam uma carta de baralho, um ás e um rei. Mal se deu conta de
tantas filmagens acontecendo pelo convés.
Propositalmente,
ao passar junto a esses apontados jogadores, artistas que faziam o chamado
Golpe de Mestre, um deles chamou a atenção dos demais e apontou a manga da camisa do recém-embarcado. O Lau que contava
com isso, viu e sorrindo aproximou-se perguntando se o haviam chamado. Assim
enturmou-se com facilidade, sabendo que procuravam outros patos pelo caminho para
o jogo da noite.
Conhecedor
de Belém, sua cidade, perguntaram-lhe de um bom lugar para mais tarde almoçarem,
e que fosse típico. Nessa hora depois de alguns comentários o Lau convidou-os:
Vamos
Lá Em Casa.
Surpresos
com esse convite, achando uma coisa
inusitada trocaram olhares, fizeram
comentários, evitando dizer não. Desconhecendo os costumes da cidade, medo de desgostosos
melindres, aceitaram a sugestão.
No
horário, tomaram um taxi.
Chovia
a cântaros e durante o trajeto comentavam as particularidades da cidade, os
magníficos cenários naturais. Caia uma água torrencial e algo atingiu com forte
impacto o capô do carro, levando os ocupantes à extrema aflição. Os convidados
já vinham inquietos com as noticias dos assaltos no Brasil. O Lau e o motorista
não se abalaram, mas viram a expressão do medo nos convidados.
— Que
foi, que sucede? Perguntaram a uma só voz. Olhavam para todo lado em
sobressaltos.
— Não é nada, não. Foi a manga.
— Não
entenderam bulhufas. Olharam curiosamente para as mangas da camisa Polo que o Lau vestia.
O motorista vendo pelo espelho, falou p´ro
Lau:
— O
Sr. Explica para eles que essa arborização da rua é formada por mangueiras.
— É
verdade... Tenham calma, foi a manga que caiu.
Prá que! Um deles chegou a puxar a manga da camisa do
novo amigo!
— Não,
não. Vejam, estas árvores que cobrem a rua são mangueiras, mango, mango, vocês
entendem?
Muito
admirados, depois de alguns minutos, chegavam ao portão de entrada do local.
—
Vamos entrar? Entrem, entrem, orientava o Lau.
Surpresa!
Viram pasmados tratar-se de um restaurante. Lá Em Casa, o famoso restaurante de
Belém, cuja especialidade é o Pato No Tucupi. Não ficou dúvida, era muito
sugestivo.
Depois
de alguns pãezinhos e um preparado de berinjela foi servido o esperado prato
típico, Pato no Tucupi. Mesmo os assíduos frequentadores deixam escapar sua
admiração pela iguaria.
Esses
convidados ficaram sem palavras. Apenas perguntavam o porquê dos lábios
amortecidos.
— Lau
explicou que o tucupi é extraído de uma mandioca venenosa e junto com janibu e
outros condimentos, da gostoso sabor ao pato e quase sempre ocasiona a dormência
esperada nos lábios. Ela é o testemunho do pato bem preparado.
— É
veneno! Não tem perigo?
— Até
agora não morreu ninguém. Se ingerido seu caldo puro, antes do descanso é
realmente venenoso.
—
Descanso de quem, da gente?
— Ai
meu Deus! Do caldo extraído, claro!
Seu preparo exige muita atenção e conhecimento.
Nada escapava do cinegrafista Barreto e suas câmeras,
escondidas registravam todos os acontecimentos.
Depois
do jantar que aconteceu no navio, organizaram a mesa do pôquer. Sorteados os
lugares, se posicionaram, receberam as fichas, ou seja, o cacife que era
registrado como débito na conta de cada um.
Iniciou
o jogo quem tirou a carta maior. Lau, acostumado com o desenrolar das jogadas,
assustou-se presenciando logo no inicio um atrevimento inusitado nas apostas.
Não podia demonstrar fraqueza, acompanhava sempre que seu jogo permitia. No
mínimo determinava acompanhar com dois pares.
Ganha,
perde, perde, ganha. Perde, perde, perdeu muito. Na manhã seguinte, de novo
grandes comentários no convés, junto à piscina. Bem pensou, foi a primeira
noite. Hoje vou mudar meu jogo, aplicar aquele golpe.
O
Robson, um dos jogadores, balançando a cabeça disse para que todos escutassem:
— MEU NOVO AMIGO LAU. NÃO FOSSE UM FILME, HOJE COM SUA
PERDA DE ONTEM ESTARIA ENCHENDO A
CARA... NÃO É?
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